O que é marxismo ? ( Resumo do Livro de Nildo Viana).

 
Grace Kelly S.A.
  Neste presente artigo tenho como objetivo enfatizar as necessidades da retomar a teoria revolucionaria. Precisamos então resgatar o pensamento de Marx, elemento fundamental para realização desta tarefa. Porém, primeiro temos que ter a clareza quanto à situação e á gravidade do problema. Portanto olharemos a profundidade e a extensão do pensamento, as distorções causadas pela esquerda ao longo destes últimos anos. E, em especial, interpretar revolucionariamente o mundo atual.
Aos 23 anos, em 1841 Karl Marx começa sua trajetória teórica.  Desde aí se ocupou em analisar a sociedade capitalista, em 1883 acaba entrando em óbito, deixando vários de seus escritos inacabado, o marxismo teve deformações, causadas por interpretações equivocadas. Enveredando nações inteiras por caminhos que não eram efetivamente marxistas, ou pelo menos na conclusão do ideal do pensador que conhecemos que é Marx. Entretanto, ele não é responsável pelo que os “autos-titulados marxistas” fizeram e fazem em seu nome.
 Primeiramente, não podemos esquecer que o termo marxismo surgiu como pejorativo, cunhado de um adversário de Marx. O Anarquista Mikhail Bakunin, chamou os partidários de Marx de “marxistas”, a palavra não foi aceita de imediato, só no inicio do século XX, com o surgimento de inúmeras experiências autogestionárias as obras de Marx expande-se pelo mundo, mudando assim o sentido da palavra de pejorativa para positiva.  Não é fácil falar do marxismo, não tem como negar que as teorias de Marx tiveram diversas interpretações equivocadas, surgindo assim, vários marxistas com ideais contraditórias, usando e usufruindo do nome marxista para práticas mais diversas e sanguinárias. Um dos responsáveis por isso foi Lenin, cheio de autoritarismo e de ânsia por poder, implanta na Rússia o capitalismo estatal e a ditadura sobre o proletariado. Ele tornou o marxismo autoritário, colocou suas ideias independentes e autônomas como se fosse equivalente a de Marx, e se "autonomeava marxista".
    "As diferentes” “leituras” compreensões dos escritos de Marx realizadas em contextos histórico-sociais, culturais, econômicas e políticos-diversos deram origem a uma multiplicidade de contextos histórico-sociais, culturais, econômicas e políticos-diversos deram origem a uma multiplicidade de "marxismos".  “(Santana, Jose. 2007)”.                    
"As diferent                                                                     O marxismo perdeu seu carácter original e revolucionário, quando é criado através dele o “revisionismo”, a "ortodoxia" e o "bolchevismo". Com essas versões falsastes do marxismo, ele vira seu aspecto revolucionário para ser consolidação capitalista, deixando de ser crítico radical para defender a economia burguesa, tornando-se assim um "sistema cientifico". O Estalinismo não representa a classe operária e sim a burocracia do estado, sob domínio da classe dominante na antiga União Soviética, não é  uma teoria e sim uma ideologia. Essas versões que estão longe do que realmente Marx propôs,  ainda é seguida é defendida por muitos, porém, não passa de meros equívocos e que portanto deve ser descartadas, pois são pensamentos autônomas e independentes que não seguem a teoria de Marx e são grupos individuais e organizações que se colocam a disposição do estado, defensores do materialismo, o racionalismo, o iluminismo, o determinismo todos burgueses.  Apresentando assim, o marxismo como  uma corrente burguesa e ideológica, predominando em seu interior uma falsa consciência em meio a momentos de verdade. Além disso, muitos destes reproduzem teses de líderes que já não corresponde com a realidade, caindo assim no "revisionismo". Historicamente todos já vinha perdendo força, mais ainda é ameaça contra a revolução podendo se aliar a outras forças pseudomarxistas, para assim evitar a revolução do proletariado.
 O marxismo, inicialmente, pode ser definido como um movimento politico e cultural, que pode, portanto ultrapassar a ideias e a pessoa de Karl Marx. A obra de Marx é o primeiro momento do marxismo, mas não é o único. Todos os discursos sobre o marxismo só e possível através da teoria de Marx, caso isso não ocorra acontece a deformações, assim como fez Lenin, Bernstein, Kaustsky, Trotski, Stalin.
  Karl Kosch foi um dos principais autores a perceber a importância de aplicar o materialismo histórico ao marxismo, realizando assim, uma análise marxista do marxismo. Para ele, a sociedade soviética é como um capitalismo de estado, uma expressão ideológica do movimento operário. Critica radicalmente o leninismo, mostra que o conhecimento de Lenin está longe de Hegel e de Marx, e que são pré-katianas e pré-critica. Afirmou que o marxismo é expressão teórica do proletariado, porém, ele não explicar detalhamente o que é ser expressão do movimento operário, o que ele faz é mostrar o caminho a ser seguido, para assim efetivarmos uma análise do marxismo.  Nele não há espaço para ideologia da vanguarda, defende a inseparalidade entre "ser" e "consciência", mostrando que é impossível separar a "consciência de classe” do "ser-de-classe". Os democratas e bolchevistas entravam em atrito com Kosch, discordando com a tese de que é necessário aplicar a concepção materialista da História ao marxismo. Ele ainda vai além, mostra que a filosofia as ideias e concepções de mundo são todas passadas por um carácter de classe (Viana, 2007).
 “Agora veremos um resumo do materialismo histórico escrito por Marx, resumo da concepção de Marx pode ser encontrado no célebre “Prefácio” da Contribuição à Crítica da Economia Política, escrito em janeiro de 1859:” 
                                          "O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu-me de guia para meus estudos, pode formular-se, resumidamente, assim: na produção social da própria existência, os homens entram em relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade; estas relações de produção correspondem a um grau determinado de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. A totalidade dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas sociais determinadas de consciência. O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, política e intelectual. Não é a consciência dos homens que determina a seu ser; ao contrário, é o seu ser social que determina a sua consciência. Em certa etapa de seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes, ou, o que não é mais que sua expressão jurídica, com as relações de propriedade no seio das quais elas se haviam desenvolvido até então. De formas evolutivas das forças produtivas que eram essas relações convertem-se em entraves. Abre-se, então, uma época de revolução social. A transformação que se produziu na base econômica transtorna mais ou menos lenta ou rapidamente toda a colossal superestrutura. Quando se consideram tais transformações, convém distinguir sempre a transformação material das condições econômicas de produção - que podem ser verificadas fielmente com a ajuda das ciências físicas e naturais - e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas sob as quais os homens adquirem consciência desse conflito e o levam até ao fim. Do mesmo modo que não se julga o indivíduo pela idéia que faz de si mesmo, tampouco se pode julgar uma tal época de transformação pela consciência que ela tem de si mesma. É preciso, ao contrário, explicar esta consciência pelas contradições da vida material, pelo conflito que existe entre as forças produtivas sociais e as relações de produção. Uma sociedade jamais desaparece antes que estejam desenvolvidas todas as forças produtivas que possa conter e as relações de produção novas e superiores não tomam jamais seu lugar antes que as condições materiais de existência dessas relações tenham sido incubadas no próprio seio da velha sociedade. Eis porque a humanidade não se propõe nunca senão os problemas que ela pode resolver, pois, aprofundando a análise, ver-se-á sempre que o próprio problema só se apresenta quando as condições materiais para resolvê-lo existem ou estão em vias de existir. Em grandes traços, podem ser designados, como outras tantas épocas progressivas da formação econômica da sociedade, os modos de produção asiática, antiga, feudal e burguesa moderna. As relações de produção burguesas são a última forma antagônica do processo de produção social, antagônica não no sentido de um antagonismo individual, mas de um antagonismo que nasce das condições de existência sociais dos indivíduos; as forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa criam, ao mesmo tempo, as condições materiais para resolver este antagonismo. Com esta formação social termina, pois, a pré-história da sociedade humana (Marx, Karl. 1859)”.

 Cada classe social ocupa uma posição específica em relação às relações de produção, as ideias de mundo são todas perpassadas por um carácter de classe. O representante de cada classe tem como objetivo responder com suas ideias o interesse da classe que ele representa, pode ser um político, autor e etc. Marx afirmou que a consciência é determinada pela situação social do individuo, descobriu que nas classes há um tipo de interesses antagônico. O que devemos fazer é saber qual interesse de classe possibilita ter uma consciência real, correta e verdadeira da realidade e quais nos impedem e dificultam chegar até ela;
                                                                                                                                                     "Em toda sociedade de classe as ideias dominantes são as ideias da classe dominantes e essas são ideológicas. A ideia de classe revolucionaria são, pelo contrário, críticas. Quando uma classe assedente luta pelo poder político, ela representa seus interesses como sendo interesse geral da sociedade e efetua uma desmistificadora crítica da antiga ideologia dominante ou a reproduzem adaptando-as a seus interesses. A burguesia, em seu período de ascensão, produziu um conjunto de ideias, críticas que possuem valor teórico até os dias de hoje. Mas, uma vez implantadas a nova dominação de classe, suas ideias se tornaram conversadoras e a serviço da reprodução das relações de produção capitalista. Contudo, surge uma nova classe revolucionara-o proletariado-que representa as suas ideias revolucionarias em oposição as ideais conservadoras. Entretanto, como o proletariado significa autodissolução das classes social em geral e, portanto, sua própria autodissolução, ele representa o real interesse geral da sociedade e a revolução proletária marca o fim de todas as formas de dominação e, consequentemente, o fim da ideologia. A consciência revolucionaria do proletariado é a autoconsciência da contradição da sociedade burguesa e da necessidade de sua abolição e substituição por uma nova sociedade fundamental da autogestão social. O indivíduo componente da classe operaria podem desenvolver uma consciência revolucionaria antes que a classe e outros representantes culturais possam manifestá-la sob diversas formas. (Viana, Nildo. 2007.p.36)."
 O marxismo é a crítica do proletariado contra a ideologia burguesa, a  ideologia reflete os interesses da classe dominante, e é uma forma sistematizada de criar uma falsa consciência. O principal interesse da classe capitalista e ocultar, falsificar, camuflar e fragmentar a realidade social, assim, o interesse da classe operária é supera, destruir  a falsa realidade ideológica e, em seu lugar produzir uma consciência real, entrando assim em atrito com a ideológica burguesa. Portanto, o marxismo não é ideológico e sim teórico, ele é uma concepção de mundo marginalizado na sociedade capitalista. A teoria tem como objetivo manifestar os interesse da classe do proletariado, dessa forma, a classe burguesa manifesta-se sob forma ideológica e de nível sistematizado, já a classe proletariado manifesta-se sob forma teórica e de nível articulado, comprovando que o marxismo é uma teoria e em seu conteúdo é uma expressão do movimento operário, é só pode ser uma teoria sendo expressão do proletariado. 
  "O marxismo sempre teve dificuldades em se reproduzir na sociedade capitalista e sempre foi marginalizado no interior dessa sociedade dominada pela cultura burguesa. (Viana, Nildo. 2007)". O modo de produção apresentado pelos capitalista e seus ideólogos são mostrado como eterno, porém, a crise do capitalismo ocorre quando o proletário entra em ação e destrói as relações de produção capitalista. Etretanto, o capitalismo está em constante mudanças se renovando e modificando para evitar sua crise, mas dificilmente se manterá, o seu fim não está em um futuro distante mas está presente, ele si desgasta a todo momento.
 Com o surgimento das classes sociais é necessário criar uma mecanismo para controlar a classe explorada, esse mecanismo é o estado, ele é uma instituição que tem interesses particulares, porém, mostra-se sendo democráticos e que corresponde aos interesses gerais da sociedade. E claro, que o Estado assim como as classes dominantes, lutam para falsificar a sua dominação e exploração. O Estado é uma relação social de dominação de classe, para funcionar precisa de meios representantes compostos por administração e repressão. O meio de educação é o principal meio de alienação do capitalismo é, o lugar onde produz seus meios de materiais para existir o meio de produção cultural, repressão, administração, comunicação, os sindicatos, partidos políticos, polícia, militares, burocratas, artistas e a igreja.
 “A história da humanidade é um processo em desenvolvimento e esse é o grande problema da historia, o surgimento da classe social proletarizada. O proletariado expressa a possibilidade de mudança no grande problema que ocorreu na história: o surgimento do capitalismo (Viana, Nildo. 2007).” A sua luta é constante,  tem como objetivo acabar com a exploração e o trabalho alienado. Os trabalhadores lutam para controla seu trabalho. Sua luta se manifesta das mais divetas formas, como quebras de patrimônios públicos, revindicações, greves e etc. " A emancipação da classe operaria será obra da própria classe operaria".(Marx, Karl e Engel, Friendrich. 1978, p.30).  Nenhum partido ou organização que dizem representar o proletariado não o levara para emancipação, a sua libertação depende de sua coletividade. Assim, a classe operaria busca abolir a relação capital. Opõe resistência a dominação capitalista, o operário sobre a dominação capitalista e coagido, oprimido e explorado, forçado a vende sua força de trabalho para sobreviver, se mecaniza e coisificar como um sacrifício, trabalhado não para o bem comum, mas para uma só classe a qual não pertence. É por isso que o proletariado luta contra o capital e isso faz como que ele faça parte do "ser-de-classe".  Na luta desenvolve sua consciência de classe, sua coletividade irá instaura um novo sistema: a autogestão social, abolindo assim o capitalismo "selvagem". O capitalismo tem um único objetivo: lucrar e assim aumentar sua acumulação de riquezas privadas, o consumo é seu "motor imóvel". Para lucra precisa criar uma sociedade consumista, essa sociedade e alva de uma falsa consciência, que é produzida pela cultura da classe dominante. Por essa causa ele está sempre renovando estratégicas para acumular, não somente por meio da expropriação da mais-valia na produção, mas também pelo lucro obtido na venda dos produtos:
                                                                 “A autogestão não é um objetivo da sociedade capitalista, seja na forma do capitalismo privado, seja na forma livre concorrencial, monopolista ou estatal. Ela significa que o proletariado e os assalariados em geral gerem por si mesmos suas lutas, através das quais se conscientizam de que podem administrar a produção e criar formas novas de organização do trabalho. Em suma, que podem colocar em prática a “democracia operária”. O predomínio da autogestão nos campos econômicos, social e políticomanifesta-se sempre que os trabalhadores aparecem como sujeitos revolucionários (TRAGTENBERG, 1989, p. 09).”
 Em qualquer sociedade, tirando as primitivas, as aspirações de alguns membros entram em atrito. A história nós mostra possibilidades de utopias serem realizáveis, que temos vitorias e derrota, deformações e formações, que estamos em constantes mudanças. O marxismo foi e é o fio produtor de mudanças na sociedade, na luta vemos oprimidos e opressores, dominantes e dominados, assim, a sociedade gira em torno das lutas de classes, de todas as classes contra o capitalismo somente o proletariado é a classe revolucionaria. 
 O capital é um trabalho morto, como uma sanguessuga que suga riquezas do trabalho vivo e quanto mais suga mais riqueza acumula, crescendo assim seu poder. As mercadorias são produtos tirados da força de trabalho humano, cada mercadoria mostra sua proporção tiradas daquele que nada tem além de sua força de trabalho, imaginamos bilhões e bilhões de pessoas sendo exploradas pelos seus patrões: os burgueses não podendo assim possuem o que produz, e assim os “senhores” burgueses lucrar pagando para o operário uma pequena parte do ele produz e com as venda dessas mercadorias. O tempo em que o trabalhador trabalha é o tempo em que o capitalista suga a sua força de trabalho que comprou do assalariado. Assim, o trabalhador trabalha sobre dominação do capitalista que compra sua força de trabalho, os produtos produzidos por ele pertencem ao capitalista. O capitalismo dono das mercadorias, depois de telas sobre sua mãos faz ela ter um valor mais elevado, mais do que ele gastou para produzir, produzindo assim o mais-valor. A força de trabalhado vendida pelo operário acrescenta valor ás mercadorias, e a produção repassa o valor ás mercadorias.  O valor pago pelo trabalho do operário são não insuperiores(muito baixo) ao  valor de venda, dessa forma o capitalista se apropria do mais-valor. Segundo Marx;
                                                                                                                                                                                                                                 "Ao examinar as relações de distribuições, toma-se como ponto departida, inicialmente, o pretenso fato de que o produto anual se divide em salário, lucro e renda fundiária. Mas, assim enunciado, o fato é falso. Por um lado, o produto anual se divide em capital e, por outro, em rendimentos. Um desses rendimentos, o salario, assume ele mesmo sempre só a forma de um rendimento, o rendimento do trabalhador, depois de anteriormente ter-se defrontado com esse mesmo trabalhador na forma de capital. A defrontação das condições de trabalhado produzidas e dos produtos do trabalho em geral em quanto capital com os produtos imediatos implica, da antemão, determinado carácter social das condições materiais de trabalho frente aos trabalhadores e, com isso, uma relação determinada, que estes estabelecem, na própria  produção, com os possuidores das condições de trabalho e entre si. Por sua vez, a transformação dessas condições de trabalho em capital implica a expropriação dos produtores imediatos em relação ao solo e, com isso, também as correspondente relações de distribuição"(Marx, 1988e, p.293).
 Em Marx, é existente uma identidade entre relação de distribuição e de produção. Sendo assim, é nas relações de produções capitalistas que se pode entender as fontes dos rendimentos. Nas relações de produções a algo fundamental a relação-capital. Essa relação gera a luta entre as classe distintas. O trabalhador assalariados é fonte de todos rendimentos do capital.  Marx afirma:
                                                                         "Graças ao trabalho alienado, por conseguinte, o homem não só produz sua relação como o objeto e o processo de produção, como homens estranhos e hostis: também produzem a relação de outros homens com a produção e o produto dele, e a relação entre ele próprio e os demais homens. Tal como cria sua própria produção e a produção como perversão, uma punição, e o produto como perda, como um produto que não lhe pertence, assim também cria a dominação do não-produção sobre produção e os  produto desta. Ao alienar sua própria atividade, ele autorpa ao estranho uma atividade que não é dele"(Marx, 1983, p.89).
 O proletário e levado a fazer a revolução, devidos suas condições precárias e a organização da sociedade burguesa. A luta gira em torno do mais-valor, onde a classe capitalista, burguesa luta para continuidade de extração. “A classe operária, entretanto, opõe resistência e não só busca defender-se da classe capitalista como também busca abolir a relação capital (VIANA, NILDO. 2007.p.78)”. Marx(1982), afirma que o comunismo não e um ideal e sim um movimento que é real. Isso pode ser comprovado através das experiências históricas, exemplo disso é a Comuna De Paris e a primeira Comuna de Oaxaca. “A comuna era um governo da classe operária e produto de sua luta contra o capital e “afinal descoberta” pela própria experiência do movimento operário. (VIANA, NILDO. 2007.p.78)”.
 Podemos chamar a revolta popular ocorrida no México em 2006 de comuna porque foi uma luta de classe proletária contra os burgueses. Não podemos esquecer que foi tomada de consciência por uma parte da população local onde ficou evidente que os trabalhadores só podem confiar neles mesmos e cabe a eles a luta por uma autogestão social. Isso ocorreu em Oaxaca foi um marco revolucionário que contou com a mobilização popular, formando a APPO, instalações de barricadas e a tomada dos meios de comunicação, Segundo Gilson Dantas (2009), a Comuna de Oaxaca representou uma das experiências mais ricas e fascinantes de ação política e organização popular na contemporaneidade. Não só, Oaxaca, se levantou contra o governo, mas em vários municípios um grande movimento sintonizado de desobediência civil paralisou por cerca de três meses as principais instituições políticas e organismos da autoridade estatal: prefeitura, palácio de governo, assembleias parlamentares, delegacias de polícia, meios de comunicação oficiais e escolas foram ocupados por trabalhadores, indígenas e estudantes. Ruas avenidas, estradas e o aeroporto também foram bloqueados e obstruídos. A comuna de Oacaxa durou cerca de três meses. A comuna apresentada aqui mostra que é possível lutar contra o governismo e suas repressões e que a autogestão é possível.
 Agora iremos analisa o interesse de classe, para assim, comprovarmos se o marxismo e expressão teórica do movimento operário ou não. No proletariado não é necessário omitir seus interesses, Nildo(2007), afirma que o interesse do proletariado é universal e não particular, pois o proletariado quer abolir todo meio de dominação tente a libertar a humanidade em geral. Tenta suprir a falsa consciência e gera uma consciência real na sociedade contemporânea, elevando assim em teoria.   
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Marx e a divisão do trabalho: A alienação do trabalho.


 É de Karl Marx a asserção de que todo novo estado da divisão do trabalho determina as relações dos indivíduos entre si com referência a material, instrumento e produto do trabalho. Foi assim com a propriedade tribal, depois com a comunal e com a feudal, ou estamental.

 Portanto, um modo de produção ou estágio industrial é marcado por um modo de cooperação ou estágio social sendo ele mesmo uma força produtiva.
Entre a reflexão e a execução
  Mas só passou a haver efetiva divisão quando se instalou uma separação entre trabalho manual e trabalho intelectual. Enquanto execução e reflexão andaram juntas nesse processo, o indivíduo pôde, de algum modo, realizar-se em sua ocupação.
  É só com o trabalho industrial, no modo de produção especificamente capitalista, que se dá de fato a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual. Marx diz que mesmo na manufatura ainda havia a possibilidade de algum trabalho diferenciado.
Alienação total
 Na manufatura, ou modo de produção pré-capitalista, o trabalhador é explorado, mas não é despojado do seu saber. O capital se apropria do trabalho, mas a alienação é apenas do corpo.

 Já no modo de produção especificamente capitalista (trabalho industrial), o processo de trabalho é desmontado pelo capital que o remonta à sua própria lógica. A alienação é então total. O trabalhador da manufatura torna-se propriedade do capital.

 As forças intelectuais da produção desenvolvem-se apenas num aspecto, em função dos operários serem classificados e distribuídos segundo suas aptidões específicas. Já se nota a cisão entre o trabalhador e as forças intelectuais do processo material de produção, que são apropriadas pelo capital.
Relação hierárquica
 Na indústria, a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual se configura na relação entre trabalhadores técnico-científicos, cuja função é organizar o processo de trabalho e os operários que o executam.

 Essa é uma relação hierárquica. Os operários estão submetidos à lógica que o capital impôs ao processo de trabalho. Quem atua para submetê-los são os trabalhadores técnico-científicos, que se constituem em agentes do capital.

 Os trabalhadores técnico-científicos não só organizam e planificam o processo de trabalho, mas também perpetuam uma estrutura hierárquica e reproduzem as relações sociais capitalistas.
Separação entre execução e reflexão sobre o trabalho
 Partindo de Marx, André Gorz acrescenta que, "os trabalhadores da ciência e da técnica, no interior de sua função técnico-científica, têm a função de reproduzir as condições e as formas de dominação do capital sobre o trabalho". As ciências e as técnicas não são, assim, ideologicamente neutras. Elas favorecem a reprodução do capital e de sua lógica.

 O próprio Marx já havia sugerido que o desenvolvimento geral da ciência e do progresso tecnológico - a utilização do conhecimento científico-tecnológico na produção capitalista - torna-se o motor da criação da riqueza efetiva. E esta é cada vez menos dependente do tempo de trabalho.

  Esse conhecimento científico, que resulta da apropriação capitalista do saber social geral, mostra-se como tendência da produção e reprodução capitalista, em sua fase avançada. Isso acentua cada vez mais a separação entre a execução do trabalho e a reflexão acerca do que se faz, acentuando o estranhamento (a alienação) do sujeito em relação ao que ele faz.
Celina Fernandes Gonçalves Bruniera, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação é mestre em sociologia da educação pela Universidade de São Paulo e assessora educacional.
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Prefácio à Edição Alemã de 1872 - MANIFESTO COMUNISTA

Prefácio à Edição Alemã de 1872

A Liga dos Comunistas (3), uma associação operária internacional que, nas condições de então, obviamente só podia ser uma [associação] secreta, encarregou os abaixo-assinados no congresso realizado em Londres, em Novembro de 1847, da redacção para publicação de um programa teórico e prático pormenorizado do Partido. Surgiu assim o Manifesto que se segue, cujo manuscrito seguiu para Londres, para impressão, poucas semanas antes da Revolução de Fevereiro (4). Publicado primeiro em alemão, teve já nesta língua pelo menos doze edições diferentes na Alemanha, na Inglaterra e na América. Em inglês apareceu primeiro em 1850 em Londres no Red Republican, traduzido por Miss Helen Macfarlane, e na América apareceu em 1871 em pelo menos três traduções diferentes (5). Em francês, primeiro em Paris, pouco antes da insurreição de Junho de 1848 (6), e recentemente em Le Socialiste de Nova Iorque (7). Está em preparação uma nova tradução (8). Em polaco, em Londres, pouco depois da sua primeira edição alemã (9). Em russo, em Genebra, nos anos 60 (10). Foi traduzido para dinamarquês igualmente logo a seguir ao seu aparecimento (11).
Embora as condições muito se tenham alterado nos últimos vinte e cinco anos, os princípios gerais desenvolvidos neste Manifesto conservam, grosso modo, ainda hoje a sua plena correcção. Aqui e além seria de melhorar um pormenor ou outro. A aplicação prática destes princípios — o próprio Manifesto o declara — dependerá sempre e em toda a parte das circunstâncias historicamente existentes, e por isso não se atribui de modo nenhum qualquer peso particular às edidas revolucionárias propostas no fim da secção II. Este passo teria sido hoje, em muitos aspectos, redigido de modo diferente. Face ao imenso desenvolvimento da grande indústria nos últimos vinte e cinco anos e, com ele, ao progresso da organização do partido da classe operária, face às experiências práticas, primeiro da revolução de Fevereiro, e muito mais ainda da Comuna de Paris (T12) — na qual pela primeira vez o proletariado deteve o poder político durante dois meses —, este programa está hoje, num passo ou noutro, antiquado. A Comuna, nomeadamente, forneceu a prova de que "a classe operária não pode simplesmente tomar posse da máquina de Estado [que encontra] montada e pô-la em movimento para os seus objectivos próprios". (Ver A Guerra Civil em França. Mensagem do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores, edição alemã, p. 19, onde isto é desenvolvido(1*). Além disso, é óbvio que a crítica da literatura socialista apresenta, para os nossos dias, algumas lacunas, uma vez que só chega a 1847; é igualmente [óbvio] que as observações sobre a posição dos Comunistas para com os diversos partidos da oposição (secção IV), se bem que ainda hoje correctas nos seus traços fundamentais, estão agora, porém, já antiquadas na sua apresentação, uma vez que a situação política se reconfigurou totalmente e o desenvolvimento histórico acabou com a maioria dos partidos ali enumerados.
Entretanto, o Manifesto é um documento histórico, que já não nos arrogamos o direito de alterar. Talvez venha a aparecer uma edição posterior acompanhada de uma introdução que percorra a distância entre 1847 e os nossos dias; a presente reimpressão surgiu-nos inesperadamente e não nos deu tempo para tal.
London, 24 de Junho de 1872.
Karl Marx, Friedrich Engels



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MARX E A REVOLUÇÃO EUROPEIA DE 1848 - Karl Korsch


Por Karl Korsch, 1948
Como acontecera já durante a Primeira Guerra mundial, os alemães viram-se acusados durante a segunda e até hoje de não serem democratas. Não apenas os alemães de Hitler, mas todos os alemães; não apenas de hoje, mas de todos os tempos; não só no aspecto exterior, mas na sua natureza íntima. Diz-se que só uma reeducação longa e severa, recorrendo aos mais rigorosos métodos de coerção, conseguirá talvez a prazo mudar de alto a baixo esta natureza a-democrática do povo alemão; apenas por este meio poderão os alemães elevar-se ao nível histórico das nações ocidentais, com isso ficando estas últimas ao abrigo de qualquer nova iniciativa destes bárbaros atrasados contra a civilização democrática.
Do ponto de vista histórico, não há nada nessas acusações que não venha sendo dito e redito, há cem ou cento e cinquenta anos, por todos os bons europeus na Alemanha. Primeiro, foram os grandes apóstolos idealistas da educação progressiva do género humano e da nova concepção da história, vista como uma evolução no sentido da liberdade e da beleza, da razão, da cidadania universal e da paz perpétua. A esta primeira geração dos Lessing, Kant, Klopstock, Schiller, que tinha tido ligação com os Ingleses e os Franceses do século das Luzes, dos quais a inspiração e as ideias conheceram de seguida um desenvolvimento autónomo e majestoso, sucedeu a geração dos pensadores directamente tocados pelos prodigiosos acontecimentos da grande Revolução francesa, e em cujo sistema, segundo as palavras de Hegel, "a revolução veio inscrever-se e articular-se na forma do pensamento". Chamada a prosseguir sem paragem até 1840, esta evolução filosófica não era na realidade senão uma manifestação, no domínio intelectual alemão, do processo histórico universal que se perpetuou para lá de Waterloo e de Versalhes, e no quadro do qual os tribunos, homens de estado e generais da Revolução francesa, os Brissot e os Danton, os Robespierre e os Napoleão, não contentes com ter instituído em França a república burguesa moderna, criaram-lhe por acréscimo um enquadramento apropriado em todo o continente europeu. Esta geração de pensadores e de poetas, visivelmente imbuídos do espírito da Revolução francesa, não viu nenhum crítico, nem do Oeste nem do Leste, vir censurar-lhe, como uma traição infame ao espírito democrático moderno, o facto de alguns dos seus melhores representantes terem partilhado, após o entusiasmo, a desilusão que o triunfo desta revolução havia de suscitar em todos os países da Europa e até na própria França. Na sua amarga realidade, a sociedade burguesa saída da Revolução fazia, com a ideia sublime dos seus resultados, que tinham formado os que com ela tinham cooperado ou a tinham aclamado, um contraste tão grande como com o heroísmo sem limites, a abnegação, as angústias, a guerra civil e as carnificinas com que fora preciso pagar a sua vinda ao mundo. Portanto não admira que também na Alemanha, país que a Revolução francesa tinha tocado mais directamente, a adesão apaixonada "aos ideais de 1789 e 1793" devesse cedo ceder o seu lugar, enquanto com o romantismo político, o legtitimismo, o culto das instituições e das ideias medievais, o irracionalismo de princípio, a "teoria orgânica do Estado" e a "escola crítica", surgia um reviralho desastroso, com a calúnia sistemática das mesmas ideias a que certas cabeças do novo movimento haviam prestado a mais inflamada das adesões, bem pouco tempo antes.
Se queremos julgar convenientemente as noções datadas desse tempo, noções de novo consideradas com particular enlevo demonstrativas da natureza radicalmente antidemocrática do espírito alemão, é preciso não esquecer que nesse momento a França vivia a época da Restauração, que na Inglaterra dominava uma tendência nascida em 1789 que permanecia ferozmente hostil aos ideais da Revolução francesa e que só havia de desarmar com a época das reformas de 1830-1846, e que no continente todas as potências europeias, à excepção apenas da Turquia, constituíam, com o apoio da Inglaterra, uma "Santa Aliança" decidida a reprimir pela força qualquer nova propagação das ideias e dos movimentos inspirados na Revolução francesa.
Nesta perspectiva histórica, é preciso por outro lado perguntar que forças estiveram na origem da renovação dos princípios democráticos, que surgiu no continente europeu a partir de 1830, que dificuldades particulares defrontaram elas e que alterações resultaram desse facto para o progresso democrático. Só assim é possível compreender como pôde acontecer que na Alemanha, até ao virar do século, a democracia não chegou a obter uma vitória completa, indiscutível e definitiva. Constatar que na França a Restauração sucedeu à Revolução, depois a ditadura bonapartista ao renovamento democrático de 1830 e de 1848, após o que, nos finais do século, o triunfo aparente dos republicanos quando do caso Dreyfus foi seguido taco a taco de uma reacção militarista, clerical e monárquica, bem mais forte e áspera, antecipando o fascismo sob vários aspectos, é constatar ao mesmo tempo que o desenvolvimento restrito e definitivamente insuficiente das forças democráticas na Alemanha constitui, não um fenómeno especificamente alemão, mas a forma particular de uma evolução comum a toda a Europa.
Quando as comparamos às grandes revoluções europeias que, na Inglaterra e na França dos séculos XVII e XVIII, tiveram por efeito, após dezenas de anos de duros combates, transformar de alto a baixo o Estado e a sociedade, as revoluções dos séculos XIX e XX não passam de uma forma mirrada e distorcida d’ "a" revolução. O próprio Karl Marx, que alguns anos mais tarde se arvorou em crítico implacável desta submissão ideológica dos revolucionários do século XIX às tradições gloriosas do passado, havia ele próprio de se mostrar submetido a essas mesmas ideias tradicionais, enquanto participava na revolução alemã de 1848. Durante esta única revolução democrática que conheceu o século XIX, e enquanto tudo levaria a crer que as duras lutas dos seus anos de aprendizagem política teriam tido por consequência levá-lo a abandonar a óptica revolucionária burguesa, na realidade Marx não defendeu de modo nenhum um programa de revolução social ou socialista que transcendesse os objectivos da burguesia. Pelo contrário, fez questão de, sempre que a ocasião se proporcionava, incitar esta revolução burguesa a tomar por modelo a Revolução francesa, em particular a sua fase jacobina de 1793-1794.
A título de exemplo, por muitos outros do mesmo género, eis uma passagem do artigo que Marx redigiu a 11 de Dezembro de 1848 para a Nova Gazeta Renana, onde este carácter das críticas por ele dirigidas à revolução alemã ressalta com a maior nitidez. Começando por descrever a traços de fogo a grandeza histórica das revoluções de 1648 e de 1789, Marx dizia que se tratava na ocorrência não já "de revoluções inglesa e francesa, mas de revoluções de estilo europeu. Elas não eram a vitória de uma classe determinada da sociedade sobre o antigo sistema político, mas a proclamação de um sistema político válido para a nova sociedade europeia". E prosseguia assim: "Não há nada disto na revolução de Março na Prússia. (…) Longe de ser uma revolução europeia, não passava do eco enfraquecido duma revolução europeia num país atrasado. (…) A revolução de Março na Prússia nem sequer era nacional, alemã, era desde a origem provincial, prussiana. As insurreições de Viena, de Cassel, de Munique, levantamentos provinciais de toda a espécie a acompanhavam e lhe disputavam o primeiro lugar. (…) A burguesia prussiana não era a burguesia francesa de 1789, a classe que, face aos representantes da antiga sociedade, da realeza e da aristocracia, encarnava por si só toda a sociedade moderna. Descida à condição de uma espécie de casta (…), longe de representar uma categoria social do antigo Estado que tivesse conseguido romper, ela tinha sido lançada por um tremor de terra à superfície do novo Estado, mostrando os dentes aos de cima, tremendo perante os de baixo, egoísta face a ambos e consciente desse egoísmo, revolucionária contra os conservadores, conservadora contra os revolucionários, desconfiada das suas próprias palavras de ordem, fabricando frases em vez de criar ideias, intimidada pela tempestade universal, mas explorando essa tempestade (…), sem iniciativa, sem fé nem em si própria nem no povo, sem vocação histórica - um velho maldito, sem olhos, sem ouvidos, sem dentes, sem nada, votado a guiar e a desencaminhar em função dos seus interesses caducos os primeiros impulsos juvenis de um povo robusto - tal era a burguesia prussiana quando após a revolução de Março se encontrou no limiar do Estado da Prússia."
Apesar desta crítica percuciente das fraquezas e insuficiências das lutas que se desenrolavam sob os seus olhos, Marx ateve-se a palavras de ordem que permaneciam no quadro de uma grande revolução democrática, do mesmo tipo da Revolução francesa do século XVIII. Com efeito, ele impôs-se como tarefa opor às acções do movimento existente, que recuava perante os seus objectivos próprios, audaciosas palavras de ordem do passado, tais como as reivindicações da república una e indivisível, do armamento do povo, da ditadura revolucionária e do "Terror". Neste plano ele chocou de imediato com obstáculos insuperáveis. As reivindicações pré-citadas eram retiradas do arsenal da Revolução francesa. Eram os símbolos de um movimento que levou ao estabelecimento da sociedade burguesa. Mas, dado o emburguesamento gradual da sociedade europeia entretanto ocorrido, elas interessavam agora tão pouco a grande burguesia e uma parte da pequena que Marx apenas podia divulgá-las publicamente sob uma forma muito geral ou muito insossa. É assim que a 6 de Junho de 1848 ele iniciava na Nova Gazeta Renana a sua campanha a favor das menos desagradáveis das palavras de ordem jacobinas supracitadas com a declaração seguinte: "Nós não pedimos, o que seria utópico, que seja proclamada a priori uma república alemã una e indivisível." E deslocava a questão do terreno da acção imediata para o do desenvolvimento futuro quando acrescentava: "a unidade da Alemanha, tal como a sua constituição, só podem resultar de um movimento". Mais, o "órgão da democracia" dirigido por Marx, enquanto subia constantemente de tom, não deixava de manejar com extrema circunspecção estas palavras de ordem mais avançadas da luta por objectivos democráticos.
Marx, renunciando assim a expor abertamente o programa integral da revolução democrática, fazia-o em função de uma táctica previamente fixada; e não restam dúvidas que, considerada sob ponto de vista histórico, esta táctica revela-se já prenhe da contradição fundamental, inerente à posição de Marx na revolução de 1848. Ele recusava-se a opor às realidades da revolução burguesa uma utopia socialista. Não obstante, persistia em querer impor a este movimento revolucionário dos tempos presentes formas de acção dos tempos passados, nada adequadas às condições actuais deste último. Assim, esta tentativa de elevar a revolução democrática de 1848 ao mais alto nível, o que a revolução burguesa tinha atingido numa fase anterior e transitória do seu desenvolvimento, apresenta-se-nos, tendo em conta a mudança das condições históricas entretanto ocorrida, tão utópica como seria nessa época a propaganda directa do socialismo.
O contraste entre as condições imaginadas por Marx e as condições efectivas da revolução de 1848, que ele viveu e em que participou, torna-se mais óbvio precisamente nos pontos em que a sua crítica dos pontos fracos desta revolução, considerada sob um ponto de vista a-histórico, parece mais bem fundada e onde o conteúdo real daquela fica mais aquém das reivindicações por ele formuladas. Citemos a este propósito a política provinciana, a política de campanário alardeada por todos os dirigentes nacionais e locais e , em contraposição, o internacionalismo de grande estilo de que Marx nunca se afastou quando tratava, na Nova Gazeta Renana, da relação da revolução prussiana e alemã com o movimento que se desencadeava ao mesmo tempo na Europa inteira.
Só do ponto de vista quantitativo, é preciso notar desde logo que o órgão de Marx consagrou às revoluções da França, da Áustria, da Polónia, da Boémia, da Itália e da Hungria estudos muito mais detalhados que qualquer outro jornal alemão. A Nova Gazeta Renana não se limitava a reivindicar a Alemanha para os alemães. Ela reivindicava igualmente a Polónia para os polacos, a Boémia para os checos, a Hungria para os húngaros, a Itália para os italianos. O abandono descarado da revolução polaca pelo governo prussiano; a pusilanimidade por este mostrada face às pressões britânicas e russas no caso Schleswig-Holstein; o esmagamento pela própria burguesia revolucionária da insurreição operária de Junho em Paris, que teve uma influência decisiva na sorte de toda a revolução europeia; o esmagamento não menos decisivo quanto a este aspecto da revolução em Viena; o fracasso da grande manifestação cartista em Inglaterra e as suas consequências - todas estas tentativas abortadas, todos estes reveses, eram tratados na Nova Gazeta Renana como derrotas tanto da revolução alemã como da revolução paneuropeia. Fazendo assim, ela desvendava também a trágica oposição dos pretensos interesses nacionais em virtude dos quais as diversas secções duma única e mesma revolução europeia, como que tomadas por uma fúria de autodestruição, agiam não só contra o seu interesse comum, mas ainda contra o seu interesse nacional real: austríacos contra checos; checos, alemães, austríacos e húngaros contra italianos; checos contra vienenses; e, para cúmulo, austríacos, checos e russos contra o movimento no qual a Europa inteira tinha posto as suas últimas e maiores esperanças, o da Hungria revolucionária. O torno sangrento devia apertar-se assim até ao momento em que o triunfo generalizado da contrarevolução pôs fim à força a estes combates fratricidas.
De todo o modo, a análise rigorosa e documentada, a que a Nova Gazeta Renana submetia todas estas conexões não deixava de apresentar ao mesmo tempo o carácter demasiado abstracto e a-histórico inerente, também deste ponto de vista à política encarnada por Marx. O internacionalismo sublime com que ele procurava então aliviar este estado de atraso nacionalitário não tinha em conta o facto de que o reforço das consciências nacionais e dos antagonismos nacionais, agora tão nefasto à acção unificada das forças revolucionárias, procedia igualmente da vitória parcial, transitória, do princípio burguês. Ora tendo estes antagonismos origem não fora da história (no "sangue", na raça, na "terra" ou na pátria, por exemplo) mas, pelo contrário, no desenvolvimento histórico da sociedade burguesa, era impossível que a propagação internacional da revolução do século XIX pudesse a partir de agora desenvolver-se segundo o modelo jacobino e napoleónico, sendo a sua reprodução pura e simples.
Nas condições históricas mudadas do século XIX, Marx continuava a fazer da guerra revolucionária a panaceia que permitiria à revolução paneuropeia resolver todas as suas dificuldades internas e externas, como fora o caso na Revolução francesa. Tendo a guerra contra esta prosseguida pelas três grandes coligações europeias tido por efeito aumentar consideravelmente a influência russa no mundo, era óbvio, agora que o centro do movimento revolucionário se tinha deslocado notoriamente para Leste, que o inimigo natural da revolução paneuropeia era a Rússia czarista. Foi esta convicção que, durante dezenas de anos, serviu de base à política externa democrática que Marx preconizava sistematicamente sempre que surgia um conflito na Europa. Mesmo quando, após o golpe de Estado de Napoleão III, tudo parecia indicar que o czar partilhava agora o lugar de inimigo principal da democracia com o ditador francês, o inimigo a combater prioritariamente continuou a ser, segundo Marx, não o aventureiro imperial, o "indivíduo repugnante" que a burguesia francesa tinha encarregue de executar a sentença de morte que pronunciara em Junho de 1848, no seguimento da insurreição dos operários parisienses, contra as suas próprias instituições republicanas, mas tão só "este poder bárbaro cuja cabeça está em S. Petersburgo e cujas mãos agem em todos os gabinetes da Europa". O papel que, no quadro desta concepção, restava a "Boustrapa"(1) era apenas o de aliado ou de agente da grande potência reaccionária que se perfilava atrás dele.
A tese que acabamos de esboçar e segundo a qual a guerra no século XIX não tinha perdido nada da sua importância para a revolução, não era de modo nenhum quimérica. De facto, também as guerras nacionais tiveram um papel na revolução de 1848. Se na Prússia como na Itália, na Áustria, na Hungria, guerras exteriores e guerras civis não se combinaram numa unidade efectiva, a brusca interrupção no seguimento do armistício de Malmoe, da guerra que a Prússia travava na Dinamarca, com vista a "libertar" o Schleswig e o Holstein, desenganou e esmoreceu todas as tendências do movimento revolucionário alemão, mais ainda talvez que as suas previsíveis repercussões políticas no plano interno. Que esta primeira guerra revolucionária, se tivesse sido levada até ao fim, poderia ter tido consequências iminentemente favoráveis ao desenvolvimento do movimento, é o que é confirmado, desta vez indirectamente, pelo facto de que esta tarefa, deixada por resolver pela revolução alemã, foi retomada pela contra-revolução bismarkiana por sua própria conta no período seguinte e de que a segunda campanha da Dinamarca (1864), conjuntamente com as guerras austro-prussiana (1866) e franco-alemã (1870), esteve na origem de um desenvolvimento progressista na Europa, pelo menos sob certos aspectos.
guerra revolucionária contra a Rússia, também ela não tinha nada da solução arbitrariamente concebida fora do contexto de 1848 como se poderia imaginar de forma simplista na falta de um bom conhecimento da conjuntura política e diplomática do momento. Com efeito sabe-se hoje que na época em que a Nova Gazeta Renana fazia campanha neste sentido, o czar, por seu lado, tinha já oferecido ao príncipe da Prússia a ajuda dos seus exércitos para restabelecer à força o despotismo em Berlim e não só. Um ano depois, foram as baionetas russas que salvaram a reacção austríaca aniquilando os exércitos de Kossuth nas planícies da Hungria. Uma guerra defensiava prosseguida em comum pela Républica francesa, pela Alemanha de obediência prussiana, pela Itália piemontesa e pela Polónia insurgida, contra o regime czarista não teria podido deixar de ter efeitos favoráveis no desenvolvimento do movimento revolucionário europeu, como expôs Arthur Rosenberg, o historiador Marxista Alemão recentemente desaparecido, na sua instrutiva obra Demokratie und Sozialismus (Verlag, Albert de Lange, Amsterdam, 1938). Tal guerra não teria tido como resultado levar a revolução à parte ocidental da Rússia e deslocar o Império dos Habsburgos, abrindo assim a via da independência às nacionalidades oprimidas pela Áustria? Por outro lado teria provavelmente permitido à França evitar a ditadura Bonapartista e à Alemanha a solução panprussiana à moda de Bismark. A partir de então, o continente teria garantido dezenas de anos de progresso democrático, tanto no plano interno como no plano externo, progresso que poderia culminar um dia no nascimento de uma confederação de todos os estados da Europa.
Tudo isto não impede contudo que a posição de Marx face à revolução europeia de 1848 se revele, ainda deste ponto de vista, dum irrealismo acabado. Uma questão se coloca: porque razão fez Marx tábua rasa das conclusões novas a que chegara durante a década precedente e que lhe tinham permitido lançar as bases teóricas do movimento operário socialista, então nos seus começos, precisamente algumas semanas antes do desencadear da revolução de Fevereiro e Março de 1848? Porque tinha ele renunciado a defender as ideias e os interesses operários que iam além dos ideais democráticos procurando substituir o programa, sem dúvida ainda utópico nesta época, duma revolução social operária, por uma outra e pouco mais realista mitologia revolucionária?
É certo que, já antes de Fevereiro, o Manifesto de 1848 não visava nem uma intervenção dos "comunistas" em qualquer país europeu, nem no mais progressista, a França. De todo o modo Marx e Engels haviam de permanecer muito aquém dos limites que tinham assinalado para uma acção de classe, pois deixaram totalmente de lado, não só na prática mas também no terreno ideológico, a tarefa de formação teórica contínua dos operários, que o Manifesto recomendava "a fim de que, concluída a derrota das classes reaccionárias na Alemanha, comece sem demora a luta contra a própria burguesia". Tratava-se aí de algo mais que da consequência da capotagem da sua própria organização. Se, como Engels expôs mais tarde, a Liga dos comunistas "se revelou ser uma alavanca muito fraca uma vez desencadeado o movimento das massas populares", tal situação não parece ter-lhes desagradado; mais, como mostraram trabalhos recentes, eles próprios contribuíram na ocasião para este resultado.
Quando finalmente em meados de Abril de 1849, Marx se pôs pela primeira vez a debater questões especificamente operárias na Nova Gazeta Renana, desculpou-se de ter até então negligenciado estas questões alegando que "antes de mais" se tratara de "seguir a luta de classes dia a dia e de, com a ajuda da matéria histórica quotidianamente renovada, fornecer à classe operária, que tinha feito Fevereiro e Março, a prova empírica de que a sua sujeição tinha tido por efeito simultâneo a derrota dos seus adversários". Ora, nem sequer a tarefa que assim se fixava a si próprio Marx cumpriu. Em vez disso, contentou-se em demonstrar que a burguesia tinha falhado por não se ter revelado capaz de assegurar à sociedade no seu conjunto um desenvolvimento progressista fazendo valer os seus interesses com toda a energia necessária. Mas tudo o que daí se concluía era que, se havia de haver um dia progressos políticos e sociais, seriam sob outras formas, não graças à burguesia, mas contra ela. Tal é o papel que pretenderam arrogar-se a ditadura bonapartista em França e a "revolução por cima" na Alemanha.
Não podemos tratar em detalhe no âmbito deste trabalho a posição que Marx e Engels adoptaram, durante o período contra-revolucionário, face a estas formas mudadas do desenvolvimento político e social. Limitar-nos-emos, assim, a lembrar que a concepção, segundo a qual se devia ver na contra-revolução bonapartista e bismarkiana um prolongamento autêntico da fase revolucionária precedente, havia de encontrar, de seguida, um acolhimento dos mais favoráveis, não só da parte dos historiadores burgueses, mas também da parte dos marxistas e de outros teóricos do socialismo - e que não eram dos piores de entre eles. Proudhon, em La Revolution demontrée par le coup d’ État, tal como Marx nas análises das revoluções alemã e francesa que redigiu nessa época, haviam de inclinar-se nesse sentido, e vimos depois em muitas ocasiões esta apresentação de acções e desenvolvimentos contra-revolucionários como outros tantos avanços revolucionários.(2)
Os perigos inerentes a esta concepção ambígua, de duplo sentido, da revolução são ilustrados pelo conflito a este propósito surgido, nos anos de 1860, entre Lassalle e Marx. Com efeito, enquanto Lassalle e Schweitzer, valorizando as sobreditas potencialidades "revolucionárias" da contra-revolução, concluíam que os revolucionários estavam destinados, em tal circunstância, a trabalhar de mãos dadas com o poder contra-revolucionário, segundo Marx, o partido operário, em tal ocorrência, devia sem dúvida reconhecer sem ambiguidades o carácter objectivamente progressista das concessões feitas aos trabalhadores pela reacção em luta contra a burguesia, mas sem para isso consentir em alienar, por um qualquer pacto com a reacção, a independência do movimento. Ou, para retomar a fórmula poética e bela com que Engels exprimiu a mesma ideia, no artigo que consagrou em 1865 a "A questão militar prussiana e o partido operário alemão": Mit gêru scal man geba infâhan, ort widar ort (É preciso receber os presentes com a lanceta, ponta contra ponta).Indo mais longe, afigura-se-nos imperioso, sobretudo após as últimas experiências, romper com esta concepção ambígua das relações entre a revolução e a contra-revolução que, em última análise, acaba por eclipsá-las, e traçar a linha de demarcação entre a primeira e a segunda, inspirando-se na maneira como a definição de "socialismo reaccionário" dada no Manifesto Comunista de 1848 excluía do conceito de revolução os que "reprovam à burguesia não tanto o ter feito surgir um proletariado em geral, mas o ter feito surgir um proletariado revolucionário".
(1)Alcunha de Napolão III, associando a primeira sílaba de Boulogne, Strasbourg e Paris, cidades em que o pretendente bonapartista tinha perpetrado um golpe de força, esmagado nas duas primeiras vezes, mas triunfante na terceira e que lhe abriu desde então o caminho do poder duma maneira que faz lembrar, mesmo na forma exterior, a carreira de Hitler.
(2)Cf. K. Korsch, "State and Counter-Revolution", The Modern Quartely, Inverno 1939, pag. 60-67 e id., "The Fascist Counter-Revolution", Living Marxism, V, 2, final de 1940, pag. 29-37 (nota de Serge Bricianer).
Boston, Massachussets
(concluído a 18 de Março de 1948)
*Karl Korsch, in "Marx Stellung in der europäischen Revolution von 1848", Die Schule, III, 5, Maio de 1948.
(Tradução portuguesa de B. A., a partir da versão francesa de Serge Bricianer, in "Karl Korsch, Marxisme et Contre-Revolution", Editions du Seuil, Paris, 1975).


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Principais categorias de análises utilizadas por Karl Marx nos textos “salário, ganho de capital e renda da terra” contidos no caderno I da obra manuscritos econômicos – filosóficos.


Por: Bianca Wild
Marx tinha como principal objetivo entender o capitalismo e propunha através de sua obra uma ampla transformação política econômica e social, um aspecto particular de suas teorias é o fato de sua obra ser destinada a todos os homens e não apenas aos estudiosos de economia, política e da sociedade, em sua obra existe um alcance amplo nas suas formulações, que adquiriram uma dimensão revolucionária com ação política efetiva, as contradições na sociedade capitalista e as possibilidades da superação, enfim pode-se notar contida em toda obra de Marx a necessidade de se explicar a exploração do homem pelo homem, Marx utilizava o materialismo histórico, enxergava a sociedade através de uma base material sobre a qual todas as coisas funcionam.
"Os seres humanos podem se diferenciar dos animais pela consciência, religião e qualquer outra coisa que quisermos considerar. Mas, eles somente começam a diferenciar-se dos animais tão logo comecem a produzir seus próprios meios de sobrevivência, sua comida, abrigo e roupas".Com estas palavras, Karl Marx antes de tudo destacava como sua explicação se diferenciava ao explicar como a sociedade se desenvolve.
Entre os primeiros trabalhos de Marx, foi antigamente considerado como o mais importante o artigo Sobre a crítica da Filosofia do direito de Hegel, em 1844, primeiro esboço da interpretação materialista da dialética hegeliana. Só em 1932 foram descobertos e editados em Moscou os Manuscritos Econômico-Filosóficos, redigidos em 1844 e deixa-os inacabados É o esboço de um socialismo humanista, que se preocupa principalmente com a alienação do homem; sobre a compatibilidade ou não deste humanismo com o marxismo posterior, a discussão não estava encerrada.
Marx Pretendia caracterizar não apenas uma visão econômica da história, mas também uma visão histórica da economia, a teoria marxista também procura explicar a evolução das relações econômicas nas sociedades humanas ao longo do processo histórico. Haveria, segundo a concepção marxista, uma permanente dialética das forças entre poderosos e fracos, opressores e oprimidos, a história da humanidade seria constituída por uma permanente luta de classes, como deixa bem claro a primeira frase do primeiro capítulo de “O Manifesto Comunista”:
“A história de toda sociedade passada é a história da luta de classes”.
Classes essas que, para Engels são "os produtos das relações econômicas de sua época". Assim apesar das diversidades aparentes, escravidão, servidão e capitalismo seriam essencialmente etapas sucessivas de um processo único. A base da sociedade é a produção econômica. Sobre esta base econômica se ergue uma superestrutura, um estado e as idéias econômicas, sociais, políticas, morais, filosóficas e artísticas. Marx queria a inversão da pirâmide social, ou seja, pondo no poder a maioria, os proletários, que seria a única força capaz de destruir a sociedade capitalista e construir uma nova sociedade, socialista.
Para Marx os trabalhadores estariam dominados pela ideologia da classe dominante, ou seja, as idéias que eles têm do mundo e da sociedade seriam as mesmas idéias que a burguesia espalha. O capitalismo seria atingido por crises econômicas porque ele se tornou o impedimento para o desenvolvimento das forças produtivas. Seria um absurdo que a humanidade inteira se dedicasse a trabalhar e a produzir subordinada a um punhado de grandes empresários. A economia do futuro, que associaria todos os homens e povos do planeta, só poderia ser uma produção controlada por todos os homens e povos. Para Marx, quanto mais o mundo se unifica economicamente mais ele necessita de socialismo.
Os Manuscritos econômico-filosóficos ou Manuscritos de Paris apresentam a planta fundamental do pensamento de Marx: a concentração de sua filosofia na crítica da economia nacional de Adam Smith, J.B. Say e David Ricardo. Na obra, Marx expõe a contradição entre moral e economia, denunciando a radicalidade da exploração do homem pela empresa capitalista. Enquanto a reprodução do capital é o único objetivo da produção, o trabalhador ganha apenas para sustentar suas necessidades mais vitais, ou seja, para não morrer e poder continuar produzindo. materialismo dialético e declara a necessidade de "uma ação comunista efetiva" a fim de superar a propriedade privada. Se muitos dos capítulos da obra são apenas esboços, ela não deixa de oferecer um desenvolvimento quase absoluto da compreensão geral de Marx acerca das relações íntimas entre liberdade, economia e sociedade, em ensaios às vezes geniais e inclusive acabados como é o caso de "Dinheiro", o último capítulo dos
Nos Manuscritos, Marx dá sinais de sua passagem do idealismo hegeliano ao Manuscritos.
Nos Manuscritos Econômicos e Filosóficos, também nota-se que o humanismo de Marx adquiriu maior consistência. Não se tratava mais da defesa de um homem em geral, abstrato, mas de um homem concreto, histórico. Era um humanismo sob um novo ponto de vista, o ponto de vista proletário revolucionário.
Neste trabalho o autor criticou os economistas burgueses que consideravam os homens apenas enquanto produziam para o Capital. Reduziam o proletariado apenas àquele que "sem capital nem renda da terra vivia puramente do trabalho e do trabalho unilateral, abstrato, apenas como operário". Assim puderam estabelecer "o princípio pelo qual como qualquer cavalo, ele tem que ganhar o suficiente para poder trabalhar. Não considerava-o no tempo em que não trabalhava, ou seja, como homem. Assim, "os mendigos, os desempregados, os trabalhadores famintos, indigentes, criminosos, eram figuras que não existiriam para a economia política, mas apenas para os olhos dos médicos, juízes, coveiros e burocratas. As necessidades dos trabalhadores "se reduziriam as necessidades de mantê-lo diariamente no trabalho, de molde a não extinguir a raça dos trabalhadores". Os salários teriam "o mesmo significado, o da manutenção de qualquer outro instrumento de produção (...) é o óleo aplicado à mola para conservá-la rodando". O homem se transformava numa peça de engrenagem e a sociedade numa grande fábrica.
Marx submeteu o capitalismo a uma crítica feroz, de um ponto de vista revolucionário. Foi uma das críticas mais radicais escritas até então. Denunciou a desumanização do homem e a sua transformação em simples mercadoria. Denunciou o processo de alienação, não apenas religiosa e política, mas fundamentalmente a alienação, a que teria por centro o próprio trabalho humano. Definiu o trabalho alienado como fundamento do homem alienado.
No capitalismo, afirmava Marx, a produção não apenas produz o homem como mercadoria humana. produz o homem como um ser mental e fisicamente desumanizado. Imoralidade, aborto, escravidão do trabalho, a partir do momento em que a humanidade se compõe principalmente de trabalhadores, dos quais deserdados são os proletários, o humanismo real que se preocupa com os interesses de cada homem é aquele que defende os interesses proletários.
Na sociedade capitalista os operários eram as maiores vítimas da guerra sem quartel da concorrência pelos mercados, pois as alianças entre os capitalistas, fundiários, empresários eram bem quistas e conseguiam êxito, já as entre os proletários condenadas , reprimidas e dificilmente vingavam. O operário, segundo ele, não ganhava necessariamente quando o capitalista ganhava, mas perdia necessariamente quando ele perdia. "Se a riqueza da sociedade declina, afirmou, é o operário quem mais sofre; mas se a riqueza progride, é a situação mais favoravelmente para os operários, mas significa para eles também um trabalho extenuante, que abreviará sua existência".
A economia política burguesa era, por sua vez, extremamente moralista, pelo menos quanto a classe operária. Segundo o jovem Marx, sua tese principal era a renúncia à vida e às necessidades humanas. Quanto menos se comer, beber, comprar livros, ir ao teatro ou bares, ou botequim, e quanto menos se pensar, amar, doutrinar, cantar, pintar, esgrimir etc. tanto mais se poderia economizar. Tudo o que o economista tirava sob a forma de vida e humanidade devolvia sob forma de dinheiro. O trabalho deve ser apenas o que lhe é necessário para desejar viver, e deve desejar viver para ter isso.
Em contraposição a moralidade burguesa começava a surgir uma nova moralidade: quando artesãos comunistas formam associações, o ensino e a propaganda são seus primeiros objetivos. Mas sua própria associação uma necessidade nova, a necessidade da sociedade, o que ser um meio tornar-se um fim. Fumar, comer e beber não são mais meios de congregar pessoas. A sociedade, a associação, o divertimento tendo também como alvo a sociedade, é suficiente para eles, a fraternidade do homem não é a frase vazia, mas uma realidade e a pobreza do homem resplandece sobre nós vindo de seus corpos fatigados.
Já no seu 1º manuscrito Marx passou a estender o seu conceito de alienação do campo da política para o campo da economia; particularmente estudando a alienação do trabalho. No capitalismo o trabalho era exterior ao operário, não pertencia à sua essência. No seu trabalho o operário não se afirmava, mas se negava. Não se sentia bem, mas infeliz. Não desenvolvia nenhuma energia física e espiritual, mas mortifica o corpo e arruinava o espírito. Portanto, o operário só se sentia consigo mesmo fora do trabalho, pois no trabalho, pelo contrário, sentia-se fora de si.
O trabalho era forçado, imposto de fora. Não era a satisfação de uma necessidade do trabalhador. O trabalho não se tornou uma necessidade, mas apenas um meio de receber um salário, um simples meio de atender outra necessidade. Todo trabalho operário voltava-se contra ele, como uma força estranha e hostil. O operário ao produzir mercadorias, produzia a sua própria alienação.
Segundo Marx: O trabalhador fica mais pobre à medida que produz mais riquezas e sua produção cresce em força e extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata à medida que cria mais bens, quanto mais o trabalhador se desgaste no trabalho tanto mais poderoso se torna o mundo dos objetos por ele criado em face dele mesmo, tanto mais simples se torna a vida interior, e tanto menos ele se pertence a si próprio, o trabalhador pôs a sua vida no objeto, e sua vida, então, não mais lhe pertence, porém ao objeto. Concluiu que se o produto do trabalho não pertencia ao operário, isso só era possível porque pertencia a outrem, o capitalista.
Marx descobriu assim um dos fundamentos da alienação humana no capitalismo: a apropriação do produto do trabalho pelo não-operário (proprietário dos meios de produção) o que acarretaria uma dominação real daquele que produz por aquele que não produz. A alienação do produto do trabalho exprimia-se na hostilidade entre o operário e o não-operário.Em geral, escreveu, a proporção de que o homem está alienado do seu ser genérico, significa que um homem está alienado de outro assim como cada um deles está alienado da essência humana.
Por isso, Marx criticou as correntes socialistas, que buscavam eliminar a condição do proletário, através de um aumento de salários, se escondendo sob a palavra de ordem “salários justos". Escreveu: Uma elevação do salário pela força nada seria do que um melhor assalariado dos escravos e não conquista para o operário, nem para o trabalho, o seu destino humano". O salário seria conseqüência do trabalho alienado e aquele que se erguia contra a propriedade privada devia reclamar a anulação do trabalho alienado, e, portanto, do salariato, como a situação na qual o trabalho não era um fim em si, mas um servidor do salário.
Marx já neste período tinha clareza da unidade dialética que se forjava entre o homem e sociedade. Nele não vemos nada que se assemelhasse ao determinismo econômico, que alguns teimam em lhe embutir. A sociedade e as condições históricas produziam os homens concretos, mas ao mesmo tempo estes não eram meros produtos, sem vontade, e sim agentes ativos que com sua ação consciente poderiam mudar as condições que lhes deram origem(consciência de classe). Afirmava ele: "da mesma forma que a sociedade produz o homem, também ela era produzida por ele". Continuou, "embora o homem seja um indivíduo único ele é igualmente o todo, o todo ideal, a existência subjetiva de sociedade como é pensada e vivenciada. Ele existe como a soma das manifestações humanas da vida".
O homem, portanto, não pode ser entendido como um “Robson Cruzóe”, do pensamento liberal. Ele só pode ser entendido como parte integrante do mundo dos homens, a sociedade. Cada indivíduo era portador do conjunto dessas relações (homem/homem,homem/natureza). O Homem (individual/real) só pode ser entendido na coletividade dos homens. Mas, em Marx, dos Manuscritos essas idéias estavam em transição e tenderiam a desaparecer na obras seguintes, em especial na Ideologia Alemã de 1845.
Todo o mundo para o homem, inclusive os seus sentidos, eram frutos da ação dos próprios homens - do trabalho humano - e "mesmo as formas de relação do homem com o mundo, ver ouvir, cheirar, saborear amar, ou seja, tudo o que é possível captar e transmitir através dos órgãos de nossa individualidade são produtos de anos de trabalho social humano". "È evidente, continuou ele, que o olho humano aprecia as coisas de maneira diferente do olho bruto, não humano, assim, como o ouvido humano difere do ouvido bruto, e só quando o objeto se torna um objeto humano o homem não fica perdido nele. Isso somente é possível quando o objeto se torna um objeto social e quando ele próprio se torna um ser social". Mas, todas essas formas de apreensão humana do mundo, através dos sentidos, se encontram em nossa sociedade limitadas em sua potencialidade pela existência da propriedade da privada e a exploração do trabalho.
A propriedade privada, segundo Marx, "tornou-nos estúpidos e parciais a ponto de um objeto só ser considerado nosso quando é diretamente comido, bebido, vestido, habitado, etc, em resumo quando utilizado de alguma forma todos os sentidos físicos e intelectuais foram substituídos pela simples alienação de todos eles, pelo sentido do ter".
A sociedade capitalista tem no dinheiro uma forma particular de alienação da essência humana em geral, que inverte o sentido da realidade, a propriedade do dinheiro passa a ser também de quem o possui, "sou feio, mas posso comprar a mais bela mulher, conseqüentemente não sou feio sou estúpido, mas o dinheiro é o verdadeiro cérebro de todas as coisas, como poderá este seu possuidor ser estúpido?". O dinheiro, para Marx, "converte o amor em ódio servo em senhor estupidez em inteligência aonde que pode comprar a bravura é bravo, malgrado seja covarde".
Contrapondo ao mundo do dinheiro, Marx pregava uma nova sociedade em que "o homem fosse homem e que a relação com o mundo fosse humana, aonde o amor só pudesse ser trocado por amor se desejar apreender a arte, será preciso apenas ser uma pessoa autenticamente educada". Mas para realizar tal mundo é preciso, antes de mais nada, abolir a propriedade privada,esquecer o ganho de capital, as rendas da terra,eliminá-los definitivamente de nossas concepções. Este seria o primeiro passo para a apropriação da verdade humana a substituição positiva de toda a alienação, o retorno do homem da religião, do Estado, para a vida realmente social.
O comunismo seria para Marx, a abolição da propriedade privada e o fim da alienação humana. Ele seria a "verdadeira apropriação da natureza humana através do e para o homem. O retorno do homem a si mesmo como ser social. O comunismo como naturalismo plenamente desenvolvido é humanismo é a resolução do antagonismo do homem e a natureza, do homem e seu semelhante. É a verdadeira solução do conflito entre a existência e essência entre o individuo e a espécie".
Referências:
MARX, Karl. Manuscritos econômicos-filosóficos. Boitempo.2004.
<http://www.marx.org/portugues/marx/1844/manuscritos/index.htm> acesso em 23 de Novembro de 2007 às 22:15 PM


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