Principais categorias de análises utilizadas por Karl Marx nos textos “salário, ganho de capital e renda da terra” contidos no caderno I da obra manuscritos econômicos – filosóficos.


Por: Bianca Wild
Marx tinha como principal objetivo entender o capitalismo e propunha através de sua obra uma ampla transformação política econômica e social, um aspecto particular de suas teorias é o fato de sua obra ser destinada a todos os homens e não apenas aos estudiosos de economia, política e da sociedade, em sua obra existe um alcance amplo nas suas formulações, que adquiriram uma dimensão revolucionária com ação política efetiva, as contradições na sociedade capitalista e as possibilidades da superação, enfim pode-se notar contida em toda obra de Marx a necessidade de se explicar a exploração do homem pelo homem, Marx utilizava o materialismo histórico, enxergava a sociedade através de uma base material sobre a qual todas as coisas funcionam.
"Os seres humanos podem se diferenciar dos animais pela consciência, religião e qualquer outra coisa que quisermos considerar. Mas, eles somente começam a diferenciar-se dos animais tão logo comecem a produzir seus próprios meios de sobrevivência, sua comida, abrigo e roupas".Com estas palavras, Karl Marx antes de tudo destacava como sua explicação se diferenciava ao explicar como a sociedade se desenvolve.
Entre os primeiros trabalhos de Marx, foi antigamente considerado como o mais importante o artigo Sobre a crítica da Filosofia do direito de Hegel, em 1844, primeiro esboço da interpretação materialista da dialética hegeliana. Só em 1932 foram descobertos e editados em Moscou os Manuscritos Econômico-Filosóficos, redigidos em 1844 e deixa-os inacabados É o esboço de um socialismo humanista, que se preocupa principalmente com a alienação do homem; sobre a compatibilidade ou não deste humanismo com o marxismo posterior, a discussão não estava encerrada.
Marx Pretendia caracterizar não apenas uma visão econômica da história, mas também uma visão histórica da economia, a teoria marxista também procura explicar a evolução das relações econômicas nas sociedades humanas ao longo do processo histórico. Haveria, segundo a concepção marxista, uma permanente dialética das forças entre poderosos e fracos, opressores e oprimidos, a história da humanidade seria constituída por uma permanente luta de classes, como deixa bem claro a primeira frase do primeiro capítulo de “O Manifesto Comunista”:
“A história de toda sociedade passada é a história da luta de classes”.
Classes essas que, para Engels são "os produtos das relações econômicas de sua época". Assim apesar das diversidades aparentes, escravidão, servidão e capitalismo seriam essencialmente etapas sucessivas de um processo único. A base da sociedade é a produção econômica. Sobre esta base econômica se ergue uma superestrutura, um estado e as idéias econômicas, sociais, políticas, morais, filosóficas e artísticas. Marx queria a inversão da pirâmide social, ou seja, pondo no poder a maioria, os proletários, que seria a única força capaz de destruir a sociedade capitalista e construir uma nova sociedade, socialista.
Para Marx os trabalhadores estariam dominados pela ideologia da classe dominante, ou seja, as idéias que eles têm do mundo e da sociedade seriam as mesmas idéias que a burguesia espalha. O capitalismo seria atingido por crises econômicas porque ele se tornou o impedimento para o desenvolvimento das forças produtivas. Seria um absurdo que a humanidade inteira se dedicasse a trabalhar e a produzir subordinada a um punhado de grandes empresários. A economia do futuro, que associaria todos os homens e povos do planeta, só poderia ser uma produção controlada por todos os homens e povos. Para Marx, quanto mais o mundo se unifica economicamente mais ele necessita de socialismo.
Os Manuscritos econômico-filosóficos ou Manuscritos de Paris apresentam a planta fundamental do pensamento de Marx: a concentração de sua filosofia na crítica da economia nacional de Adam Smith, J.B. Say e David Ricardo. Na obra, Marx expõe a contradição entre moral e economia, denunciando a radicalidade da exploração do homem pela empresa capitalista. Enquanto a reprodução do capital é o único objetivo da produção, o trabalhador ganha apenas para sustentar suas necessidades mais vitais, ou seja, para não morrer e poder continuar produzindo. materialismo dialético e declara a necessidade de "uma ação comunista efetiva" a fim de superar a propriedade privada. Se muitos dos capítulos da obra são apenas esboços, ela não deixa de oferecer um desenvolvimento quase absoluto da compreensão geral de Marx acerca das relações íntimas entre liberdade, economia e sociedade, em ensaios às vezes geniais e inclusive acabados como é o caso de "Dinheiro", o último capítulo dos
Nos Manuscritos, Marx dá sinais de sua passagem do idealismo hegeliano ao Manuscritos.
Nos Manuscritos Econômicos e Filosóficos, também nota-se que o humanismo de Marx adquiriu maior consistência. Não se tratava mais da defesa de um homem em geral, abstrato, mas de um homem concreto, histórico. Era um humanismo sob um novo ponto de vista, o ponto de vista proletário revolucionário.
Neste trabalho o autor criticou os economistas burgueses que consideravam os homens apenas enquanto produziam para o Capital. Reduziam o proletariado apenas àquele que "sem capital nem renda da terra vivia puramente do trabalho e do trabalho unilateral, abstrato, apenas como operário". Assim puderam estabelecer "o princípio pelo qual como qualquer cavalo, ele tem que ganhar o suficiente para poder trabalhar. Não considerava-o no tempo em que não trabalhava, ou seja, como homem. Assim, "os mendigos, os desempregados, os trabalhadores famintos, indigentes, criminosos, eram figuras que não existiriam para a economia política, mas apenas para os olhos dos médicos, juízes, coveiros e burocratas. As necessidades dos trabalhadores "se reduziriam as necessidades de mantê-lo diariamente no trabalho, de molde a não extinguir a raça dos trabalhadores". Os salários teriam "o mesmo significado, o da manutenção de qualquer outro instrumento de produção (...) é o óleo aplicado à mola para conservá-la rodando". O homem se transformava numa peça de engrenagem e a sociedade numa grande fábrica.
Marx submeteu o capitalismo a uma crítica feroz, de um ponto de vista revolucionário. Foi uma das críticas mais radicais escritas até então. Denunciou a desumanização do homem e a sua transformação em simples mercadoria. Denunciou o processo de alienação, não apenas religiosa e política, mas fundamentalmente a alienação, a que teria por centro o próprio trabalho humano. Definiu o trabalho alienado como fundamento do homem alienado.
No capitalismo, afirmava Marx, a produção não apenas produz o homem como mercadoria humana. produz o homem como um ser mental e fisicamente desumanizado. Imoralidade, aborto, escravidão do trabalho, a partir do momento em que a humanidade se compõe principalmente de trabalhadores, dos quais deserdados são os proletários, o humanismo real que se preocupa com os interesses de cada homem é aquele que defende os interesses proletários.
Na sociedade capitalista os operários eram as maiores vítimas da guerra sem quartel da concorrência pelos mercados, pois as alianças entre os capitalistas, fundiários, empresários eram bem quistas e conseguiam êxito, já as entre os proletários condenadas , reprimidas e dificilmente vingavam. O operário, segundo ele, não ganhava necessariamente quando o capitalista ganhava, mas perdia necessariamente quando ele perdia. "Se a riqueza da sociedade declina, afirmou, é o operário quem mais sofre; mas se a riqueza progride, é a situação mais favoravelmente para os operários, mas significa para eles também um trabalho extenuante, que abreviará sua existência".
A economia política burguesa era, por sua vez, extremamente moralista, pelo menos quanto a classe operária. Segundo o jovem Marx, sua tese principal era a renúncia à vida e às necessidades humanas. Quanto menos se comer, beber, comprar livros, ir ao teatro ou bares, ou botequim, e quanto menos se pensar, amar, doutrinar, cantar, pintar, esgrimir etc. tanto mais se poderia economizar. Tudo o que o economista tirava sob a forma de vida e humanidade devolvia sob forma de dinheiro. O trabalho deve ser apenas o que lhe é necessário para desejar viver, e deve desejar viver para ter isso.
Em contraposição a moralidade burguesa começava a surgir uma nova moralidade: quando artesãos comunistas formam associações, o ensino e a propaganda são seus primeiros objetivos. Mas sua própria associação uma necessidade nova, a necessidade da sociedade, o que ser um meio tornar-se um fim. Fumar, comer e beber não são mais meios de congregar pessoas. A sociedade, a associação, o divertimento tendo também como alvo a sociedade, é suficiente para eles, a fraternidade do homem não é a frase vazia, mas uma realidade e a pobreza do homem resplandece sobre nós vindo de seus corpos fatigados.
Já no seu 1º manuscrito Marx passou a estender o seu conceito de alienação do campo da política para o campo da economia; particularmente estudando a alienação do trabalho. No capitalismo o trabalho era exterior ao operário, não pertencia à sua essência. No seu trabalho o operário não se afirmava, mas se negava. Não se sentia bem, mas infeliz. Não desenvolvia nenhuma energia física e espiritual, mas mortifica o corpo e arruinava o espírito. Portanto, o operário só se sentia consigo mesmo fora do trabalho, pois no trabalho, pelo contrário, sentia-se fora de si.
O trabalho era forçado, imposto de fora. Não era a satisfação de uma necessidade do trabalhador. O trabalho não se tornou uma necessidade, mas apenas um meio de receber um salário, um simples meio de atender outra necessidade. Todo trabalho operário voltava-se contra ele, como uma força estranha e hostil. O operário ao produzir mercadorias, produzia a sua própria alienação.
Segundo Marx: O trabalhador fica mais pobre à medida que produz mais riquezas e sua produção cresce em força e extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata à medida que cria mais bens, quanto mais o trabalhador se desgaste no trabalho tanto mais poderoso se torna o mundo dos objetos por ele criado em face dele mesmo, tanto mais simples se torna a vida interior, e tanto menos ele se pertence a si próprio, o trabalhador pôs a sua vida no objeto, e sua vida, então, não mais lhe pertence, porém ao objeto. Concluiu que se o produto do trabalho não pertencia ao operário, isso só era possível porque pertencia a outrem, o capitalista.
Marx descobriu assim um dos fundamentos da alienação humana no capitalismo: a apropriação do produto do trabalho pelo não-operário (proprietário dos meios de produção) o que acarretaria uma dominação real daquele que produz por aquele que não produz. A alienação do produto do trabalho exprimia-se na hostilidade entre o operário e o não-operário.Em geral, escreveu, a proporção de que o homem está alienado do seu ser genérico, significa que um homem está alienado de outro assim como cada um deles está alienado da essência humana.
Por isso, Marx criticou as correntes socialistas, que buscavam eliminar a condição do proletário, através de um aumento de salários, se escondendo sob a palavra de ordem “salários justos". Escreveu: Uma elevação do salário pela força nada seria do que um melhor assalariado dos escravos e não conquista para o operário, nem para o trabalho, o seu destino humano". O salário seria conseqüência do trabalho alienado e aquele que se erguia contra a propriedade privada devia reclamar a anulação do trabalho alienado, e, portanto, do salariato, como a situação na qual o trabalho não era um fim em si, mas um servidor do salário.
Marx já neste período tinha clareza da unidade dialética que se forjava entre o homem e sociedade. Nele não vemos nada que se assemelhasse ao determinismo econômico, que alguns teimam em lhe embutir. A sociedade e as condições históricas produziam os homens concretos, mas ao mesmo tempo estes não eram meros produtos, sem vontade, e sim agentes ativos que com sua ação consciente poderiam mudar as condições que lhes deram origem(consciência de classe). Afirmava ele: "da mesma forma que a sociedade produz o homem, também ela era produzida por ele". Continuou, "embora o homem seja um indivíduo único ele é igualmente o todo, o todo ideal, a existência subjetiva de sociedade como é pensada e vivenciada. Ele existe como a soma das manifestações humanas da vida".
O homem, portanto, não pode ser entendido como um “Robson Cruzóe”, do pensamento liberal. Ele só pode ser entendido como parte integrante do mundo dos homens, a sociedade. Cada indivíduo era portador do conjunto dessas relações (homem/homem,homem/natureza). O Homem (individual/real) só pode ser entendido na coletividade dos homens. Mas, em Marx, dos Manuscritos essas idéias estavam em transição e tenderiam a desaparecer na obras seguintes, em especial na Ideologia Alemã de 1845.
Todo o mundo para o homem, inclusive os seus sentidos, eram frutos da ação dos próprios homens - do trabalho humano - e "mesmo as formas de relação do homem com o mundo, ver ouvir, cheirar, saborear amar, ou seja, tudo o que é possível captar e transmitir através dos órgãos de nossa individualidade são produtos de anos de trabalho social humano". "È evidente, continuou ele, que o olho humano aprecia as coisas de maneira diferente do olho bruto, não humano, assim, como o ouvido humano difere do ouvido bruto, e só quando o objeto se torna um objeto humano o homem não fica perdido nele. Isso somente é possível quando o objeto se torna um objeto social e quando ele próprio se torna um ser social". Mas, todas essas formas de apreensão humana do mundo, através dos sentidos, se encontram em nossa sociedade limitadas em sua potencialidade pela existência da propriedade da privada e a exploração do trabalho.
A propriedade privada, segundo Marx, "tornou-nos estúpidos e parciais a ponto de um objeto só ser considerado nosso quando é diretamente comido, bebido, vestido, habitado, etc, em resumo quando utilizado de alguma forma todos os sentidos físicos e intelectuais foram substituídos pela simples alienação de todos eles, pelo sentido do ter".
A sociedade capitalista tem no dinheiro uma forma particular de alienação da essência humana em geral, que inverte o sentido da realidade, a propriedade do dinheiro passa a ser também de quem o possui, "sou feio, mas posso comprar a mais bela mulher, conseqüentemente não sou feio sou estúpido, mas o dinheiro é o verdadeiro cérebro de todas as coisas, como poderá este seu possuidor ser estúpido?". O dinheiro, para Marx, "converte o amor em ódio servo em senhor estupidez em inteligência aonde que pode comprar a bravura é bravo, malgrado seja covarde".
Contrapondo ao mundo do dinheiro, Marx pregava uma nova sociedade em que "o homem fosse homem e que a relação com o mundo fosse humana, aonde o amor só pudesse ser trocado por amor se desejar apreender a arte, será preciso apenas ser uma pessoa autenticamente educada". Mas para realizar tal mundo é preciso, antes de mais nada, abolir a propriedade privada,esquecer o ganho de capital, as rendas da terra,eliminá-los definitivamente de nossas concepções. Este seria o primeiro passo para a apropriação da verdade humana a substituição positiva de toda a alienação, o retorno do homem da religião, do Estado, para a vida realmente social.
O comunismo seria para Marx, a abolição da propriedade privada e o fim da alienação humana. Ele seria a "verdadeira apropriação da natureza humana através do e para o homem. O retorno do homem a si mesmo como ser social. O comunismo como naturalismo plenamente desenvolvido é humanismo é a resolução do antagonismo do homem e a natureza, do homem e seu semelhante. É a verdadeira solução do conflito entre a existência e essência entre o individuo e a espécie".
Referências:
MARX, Karl. Manuscritos econômicos-filosóficos. Boitempo.2004.
<http://www.marx.org/portugues/marx/1844/manuscritos/index.htm> acesso em 23 de Novembro de 2007 às 22:15 PM


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