A crítica marxista, deve se dar, aponta Enguita, considerando:





A) que não existe um modelo de educação a partir do qual seria medida a educação existente ou que seria preparada a educação do futuro. Existe o que está posto a partir do qual se constrói o ‘la contra’. Não é um plano alternativo de educação, nem tampouco a educação de um plano alternativo de sociedade, igualmente inexistente. Não é uma dedução a partir de um suposto modelo de sociedade, mas, sim, da expressão geral do movimento real.
B) que a critica tem que ser materialista. Não têm sentindo a crítica a partir de possíveis ideais educativos ou de uma determinada idéia definida de homem e das suas necessidades. Ao contrário: a crítica deve ser construída sobre a base de que não existem nem homem abstrato, nem homem em geral, mas sim o homem que vive dentro de uma dada sociedade e em um dado momento histórico, que está determinado pela configuração social e pelo desenvolvimento histórico concretos, dos quais emergem necessidades, não limitadas somente ao homem, mas, sim necessidades históricas e sociais, entre as quais estão as necessidades no aspecto educativo.
C) a crítica não deve perder em momento algum a visão de totalidade - histórica e socialSe um dos objetivos confessos de toda educação é formar a consciência do homem, a crítica da educação deve abarcar todas as vias através das quais se produz e reproduz a consciência social e individual.
D) crítica deve mostrar a relação entre valores educativos e as condições das bases materiais que os sustentam e deve contribuir para a sua destruição. A crítica destes valores educativos é, por sua vez, a crítica de todo o reformismo pedagógico que consiste em modificar as consciências através da ação educativa, da inculcação, da ação pedagógica.
E) a análise econômica terá muito a dizer, situando a educação dentro do processo de produção e reprodução do capital e do valor, explicitando qual o papel que ela joga neste processo.
F) há que se compreender a valoração crítica da educação realmente existente, das idéias dominantes e outros aspectos da vida social que contribuem para os sucessos ou fracassos no campo da educação, que significa buscar a solução para antíteses reais nas tendências reais existentes. (ENGUITA, 1985, pp. 85-87).
Este sentido da critica marxista é colocado também por FREITAS (1995) em seu livro “Critica da Didática e da Organização do Trabalho Pedagógico. Campinas:SP, Autores Associados, destacando as seis características da abordagem marxista a saber: 1. a critica tem que se dar por oposição a uma realidade concreta e não a partir de um plano teórico; 2. A critica tem que ser materialista e não pode ser baseada em “ideais educativos”; 3. A critica deve conduzir-se sobre o real em dado momento histórico concreto, deve estar inserida em uma totalidade histórica e social. 4. Situa, o objeto da critica dentro do processo de produção e reprodução do capital; 5. Deve mostrar a relação entre os valores educativos e as condições materiais subjacentes a eles e contribuir para a destruição de tais bases. 6. Trata-se de localizar tendências existentes dentro da própria sociedade atual que permitam prever e delimitar o que serão as tendências futuras, buscando soluções por antítese reais nas tendências reais existentes.
Saviani (2004) em sua obra “Do Senso Comum a Consciência Filosófica” incorpora a noção de reflexão nos seguintes termos:  
a reflexão rigorosa do homem sobre os problemas da realidade deve atender principalmente a três requisitos: i) ser radical, o que significa dizer que a reflexão deva ir até as raízes da questão, até seus fundamentos; ii) ser rigorosa, sobretudo para garantir a primeira exigência, logo, deve-se proceder com rigor, ou seja, sistematicamente, segundo métodos determinados; e iii) ser de conjunto, logo, a reflexão deve relacionar o aspecto em questão com os demais aspectos do contexto em que está inserido (SAVIANI, 2004, p. 17).

Estas indicações são fundamentais para elaboração dos trabalhos científicos de base marxista na área da educação. Isto significa que de inicio deve-se destacar a tradição marxista de critica, que segundo Saviani é:
....realizada a partir da referência da tradição do pensamento marxista, entendendo-a em sua tríade: concepção de mundo, método de análise e práxis, tomando como referência a pedagogia socialista - teoria educacional “entendida como a visão de educação decorrente da concepção marxista da história, edificada sobre a concepção da formação omnilateral. (SAVIANI, 2007, p. )

            Estes conceitos básicos, portanto, compõe e nos permitem reconhecer uma análise critica marxista. Abandonar esta referencia é contribuir com os desvios teóricos criticados por Perry Anderson conforme destaca PUCCI em sua obra sobre Teoria Critica e Educação:
Perry Anderson, em seu livro Considerações sobre o marxismo ocidental, apresenta, entre as principais características do marxismo ocidental as seguintes: a) o divórcio estrutural do marxismo com a prática política, da teoria com a práxis; b) o silencio premeditado do marxismo ocidental em áreas fundamentais para as tradições clássicas do materialismo histórico: as leis econômicas do funcionamento do capitalismo como um modo de produção, a análise da máquina política do estado burguês, a estratégia da luta de classes necessária para derrubá-la; c) deslocamento do eixo gravitacional do marxismo europeu no sentido da filosofia, de estudos da superestrutura, com sua conseqüente” academização“. Para Anderson, ajustar as contas com esta tradição, isto é, conhecê-la e romper com ela, é assim um dos pré-requisitos para uma renovação da teoria marxista hoje. (PUCCI, Bruno. Teoria critica e Educação. Rio de Janeiro, Vozes, 1995. P. 13).
           
Portanto, se quisermos contribuir teoricamente, dentro da referencia marxista e ajustar contas com a tradição dos desvios e giros, com a separação das premissas teóricas das programáticas, temos que considerar as leis econômicas do funcionamento do capitalismo, a análise da máquina política do estado burguês, a estratégia da luta de classes necessária para derrubá-la.
Se quisermos contribuir, dentro da referencia marxista para ajustar conta com o trabalho pedagógico alienado que não desenvolve a critica marxista, a atitude cientifica, temos que considerar as contradições da escola, suas mediações e suas possibilidades transformadoras. Alterar o trabalho pedagógico é uma possibilidade concreta que exige a consideração do que é fundamente da ontologia do ser social – o trabalho em geral.   
A construção histórica do homem pelo trabalho determina as posição que ele pode assumir e suas atitudes valorativas frente aos fenômenos. O pensamento crítico constitui uma prova das ações, resoluções, criações e idéias à luz de determinadas teorias, leis, regras, princípios ou normas e, também, da sua correspondência com a realidade. Shardakov (1968), assinala cinco condições para que se desenvolva essa atitude crítica:
·        Possuir os conhecimentos necessários na esfera em que a atividade mental crítica deverá ser desenvolvida. Não pode se analisar criticamente aquilo sobre o qual não se possuem dados suficientes;
·        Estar acostumado à comprovar qualquer resolução, ação ou juízo emitido antes de considera-los acertados;
·        Relacionar com a realidade as regras, leis, normas ou teorias correspondentes, o processo e o resultado da solução, a ação ou juízo emitido;
·        Possuir o suficiente nível de desenvolvimento no que diz respeito à construção dos raciocínios lógicos;
·        Ter suficientemente desenvolvida a personalidade: as opiniões, as convicções, os ideais e a independência na forma de atuar.
            O que constatamos pelos dados do próprio governo é que a escola continua mantendo a divisão social do trabalho e em seu interior - não de forma mecânica, mas por mediações -, consolida a organização do trabalho alienado em geral, social, intelectual e economicamente -, expresso na organização do trabalho pedagógico alienado – social, intelectual e economicamente. Separa-se assim a educação da vida e compromete-se a formação humana. Trata-se aqui de alterar a organização do trabalhoi pedagógico da escola. Trata-se aqui de reivindicar a função social da escola socialista – garantir o acesso aos bens culturais, aos meios de produção destes bens, com a elevação do pensamento teórico dos estudantes visando a formação omnilateral, a transformação social rumo a sociedade comunista.

            REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ENGUITA, Mariano Fernandes. Trabajo, escuela e ideologia. Madrid, Espanha: Ediciones Akal S.A., 1985.
FREITAS, Luiz Carlos de. Crítica da Organização do Trabalho Pedagógico e da Didática.Campinas: Papirus, 1995.
PERRY, Anderson. Considerações sobre o marxismo ocidental/Nas trilhas do Materialismo Histórico. São Paulo, Boitempo, 2004
PUCCI, Bruno. Teoria critica e Educação. Rio de Janeiro, Vozes, 1995. P. 13
SAVIANI, Demerval. Educação: Do Senso Comum à Consciência Filosófica. 9ªed. São Paulo: Autores Associados : Cortez, 1989.
SHARDAKOV, M. N. Desarrollo del pensamiento en el escolar. La Habana. Editorial de Libros para la Educación.1978.

1 comentários:

Ivson at: 29 de julho de 2014 às 20:54 disse...

Camarada, esse texto da professora Dra. Celi Tafarel é belíssimo, merece ter acrescido os créditos da autora. Vamos fortalecer o que as/os outras/os camaradas estão produzindo.

 

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