A função do orgasmo, Wilhelm Reich.







Como bem sabemos, enquanto estudiosos da significativa obra de Wilhelm Reich, esse grande cientista foi frequentemente atacado com interpretações distorcidas, ou fora de contexto sobre sua pesquisa científica a respeito da função da sexualidade humana, como se houvesse algo não de todo correto ou sério, em um cientista que se interessasse em estuda esse tema. 
Reich por sua vez, dizia freqüentemente que a função da sexualidade humana, foi um dos aspectos mais negligenciados pela pesquisa científica e que poucos foram os cientistas antes e mesmo depois de Freud, que se ocuparam dela como objeto de suas investigações e ainda, que entendia as críticas oportunistas e preconceituosas que se colocavam como obstáculos ao prosseguimento de suas pesquisas, como manifestações biopáticas da estrutura de caráter neurótica do homem do séc. XX. Dessa forma, constrangido a descobrir meios para superar essas críticas, Reich acabou por desenvolver estudos cada vez mais consistentes que culminaram na criação da metodologia de pesquisa orgonômica: o funcionalismo orgonômico. 

Num justificado protesto, Reich coloca em sua obra “Superposição Cósmica” – 1950: “Estamos livres para deixar a confirmação ou refutação do nosso trabalho, a qualquer pessoa que queira tomar para si tal tarefa. Devemos contudo lembrar àqueles que nunca se deram ao trabalho de olhar em um microscópio ou para o céu , que nunca entraram em um acumulador de energia orgone e contudo estão cheios de falsas opiniões “autoritárias” sobre a orgonomia, que fiquem de lado e não perturbem um trabalho sério. Fiquem no mínimo quietos!!!”

Em sua obra “People in Trouble” - 1953, Reich segue dizendo: “É impossível dominar as funções da vida, se não se as vive completamente. Quando Malinowski decidiu estudar as culturas antigas foi para as ilhas Tobriand onde conviveu com seus habitantes em suas choupanas compartilhando suas vidas e amores ... a visão revolucionária se desenvolve a partir da prática, e ao longo de um espaço de tempo ... Estamos realizando um trabalho pioneiro com nosso conhecimento psiquiátrico e biofísico e revelando os princípios básicos do processo vital. Nosso trabalho é prevenir o câncer e outras biopatias e dessa maneira fornecer os princípios da economia sexual para todos e principalmente na educação das crianças. Sabemos que às vezes, a compreensão sobre os fenômenos pode surgir prematuramente em uma pessoa, antes que os demais indivíduos tenham atingido o mesmo nível de compreensão. A história das ciências naturais e do desenvolvimento cultural está cheia desses exemplos.”

Vale dizer que antes de Reich, a sexologia representada por nomes como Forel e Hirschfeld, se ocupava da sexualidade doente, quer dizer das perversões. Não havia qualquer pesquisa científica que permitisse construir uma teoria a respeito da função da sexualidade, capaz inclusive de preencher a lacuna deixada pela teoria econômico social de Marx, uma vez que nesta, a questão da família é em si mesma cheia de elementos emocionais e irracionais que nos remetem à moral e não à ciência natural. Reich procurou preencher essa lacuna em seus livros:“A Revolução Sexual” – 1945 e “A Psicologia de Massas do Fascismo” – 1946. Nesses livros fica claro que o problema nunca foi a forma da família ou a questão da procriação em si, mas o fato de que a família e a procriação tinham obscurecido desde o início a função do prazer biológico do animal humano. A potência orgástica, o cerne da posterior sociologia sexo econômica de Reich, só foi descoberta e descrita entre 1920 e 1927. Reich ainda esclarece: “Em suma, todos os esforços para compreender e reorganizar a sociedade operaram-se sem nenhum conhecimento do problema biosexual do animal humano”.
Quando Reich escreveu seu livro “A Função do orgasmo”, o primeiro deles, 1925, 1927 –


tentava já utilizar a questão da sexualidade de modo sócio político. Entendia os problemas econômicos trazendo limitações externas que se somavam às inibições genitais já individualmente condicionadas, despotencializando assim os indivíduos, tornando-os enfraquecidos, sedentos por autoridade externa e vulneráveis ao sadismo de alguns grupos fascistas. “O sonho de uma melhor existência social permanece sendo apenas um sonho, exatamente porque acima de tudo, no plano individual, continua comprometida a capacidade de satisfação genital. A grande miséria em que o homem se acha enredado, é devido a sua couraça caracterológica, que dificulta que ele acesse suas grandes potencialidades uma vez que o afasta da sua natureza primária e portanto da necessidade de viver em uma sociedade que permita que ele realize seu sonho de uma vida socialmente realizadora, e ainda, fornece justificativas para essa fuga ...” Esclarece Reich em “O Éter, Deus e o Diabo” - 1949

A energia sexual é gerada no corpo e necessita liberar-se através da convulsão orgástica que envolve todo o organismo. Se esta liberação natural fica inibida, se produz um represamento dessa energia (estase), que dá origem a todo tipo de mecanismos neuróticos. A liberação dessa energia bloqueada através do restabelecimento da função do orgasmo é a meta terapêutica, já que desta forma se restabeleceria o fluxo natural da bioenergia e conseqüentemente se eliminaria a neurose.

Finalmente, gostaria de citar Reich ainda uma vez mais, no texto sobre o Funcionalismo Orgonômico, escrito por volta de 1947. “Tudo que fiz, foi realizar uma descoberta fundamental, superando o irresponsável porém compreensível acanhamento, no que se refere ao processo central da sexualidade. Eu meramente descobri a função do orgasmo, mas eu fiz isso de uma forma completa e consistente.”

Muito ainda haveria para falar sobre o que Reich chamou de “A Função do Orgasmo, mas talvez o mais importante seja dizer que essa pesquisa permitiu que outras portas fossem sendo abertas. Reich, além de descobrir a função terapêutica do orgasmo abriu caminho para uma consistente investigação científica que vai desce o funcionamento das amebas ao comportamento das galáxias.
Obrigada a todos


Bibliografia utilizada: 
Psicopatologia e sociologia da vida sexual - Global editora e distribuidora ltda
A Função do Orgasmo – editora brasiliense 1975
A Revolução Sexual – circulo do livro
Psicologia de Massas do Fascismo – ed.Martins Fontes, 2a edição março de 1998
La Irrupcion de la moral sexual – Editorial Homo Sapiens, Argentina
W.R.,Una Biografia Personal, por Ilse Ollendorf Reich, Granica editor, 197 Barcelona
Orgonomic Functionalism, part 2 on The Historical Development of Orgonomic Functionalism – Orgone Energy Bulletin, Maine, 1950 e
People in Trouble – Orgone Institute Press, New York 1953 - 
( ambas obras traduzidas pela Sociedade W.Reich do Brasil)
O Éter, Deus e o Diabo seguido de A Superposição Cósmica - ed.Martins Fontes, 2003 

0 comentários:

 

Copyright © 2010 Uma Jovem Marxista, All Rights Reserved. Design by DZignine