Ao
estudarmos um determinado país do ponto de vista da sua economia política,
começamos por analisar a sua população, a divisão desta em classes, a cidade, o
campo, o mar, os diferentes ramos da produção, a exportação e a importação, a
produção e o consumo anuais, os preços das mercadorias, etc.
Parece
correto começar pelo real e o concreto, pelo que se supõe efetivo; por exemplo,
na economia, partir da população, que constitui a base e o sujeito do ato
social da produção no seu conjunto. Contudo, a um exame mais atento, tal
revela-se falso. A população é uma abstração quando, por exemplo, deixamos de
lado as classes de que se compõe. Por sua vez, estas classes serão uma palavra
oca se ignorarmos os elementos em que se baseiam, por exemplo, o trabalho
assalariado, o capital, etc. Estes últimos supõem a troca, a divisão do
trabalho, os preços, etc. O capital, por exemplo, não é nada sem o trabalho
assalariado, sem o valor, sem o dinheiro, sem os preços, etc.
Por
conseguinte, se começássemos simplesmente pela população, teríamos uma visão
caótica do conjunto. Por uma análise cada vez mais precisa chegaríamos a
representações cada vez mais simples; do concreto inicialmente representado
passaríamos a abstrações progressivamente mais sutis até alcançarmos as
determinações mais simples. Aqui chegados, teríamos que empreender a viagem de
regresso até encontrarmos de novo a população - desta vez não teríamos uma
idéia caótica de todo, mas uma rica totalidade com múltiplas determinações e
relações.
Tal
foi historicamente, a primeira via adotada pela economia política ao surgir. Os
economistas do século XVII, por exemplo, partem sempre do todo vivo: a
população, a nação, o Estado, vários Estados, etc.,; no entanto, acabam sempre
por descobrir, mediante a análise, um certo número de relações gerais abstratas
determinantes, tais como a divisão do trabalho, o dinheiro, o valor, etc. Uma
vez fixados e mais ou menos elaborados estes fatores começam a surgir os
sistemas econômicos que, partindo de noções simples - trabalho, divisão do
trabalho, necessidade, valor de troca - se elevam até ao Estado, à troca entre
nações, ao mercado universal. Eis, manifestamente, o método científico correto.
O
concreto é concreto porque é a síntese de múltiplas determinações e, por isso,
é a unidade do diverso. Aparece no pensamento como processo de síntese, como
resultado, e não como ponto de partida, embora seja o verdadeiro ponto de
partida, e, portanto, também, o ponto de partida da intuição e da representação.
No primeiro caso, a representação plena é volatilizada numa determinação
abstrata; no segundo caso, as determinações abstratas conduzem à reprodução do
concreto pela via do pensamento. Eis por que Hegel caiu na ilusão de conceber o
real como resultado do pensamento que, partindo de si mesmo se concentra em si
mesmo, se aprofunda em si mesmo e se movimenta por si mesmo; ao passo que o
método que consiste em elevar-se do abstrato ao concreto é, para o pensamento,
apenas a maneira de se apropriar do concreto, de o reproduzir na forma de
concreto pensado; porém, não é este de modo nenhum o processo de gênese do
concreto em si. Com
efeito, a mais simples categoria econômica - por exemplo, o valor de troca -
supõe uma população, população essa que produz em condições determinadas; supõe
ainda um certo tipo de família, ou de comunidade, ou de Estado, etc. Tal valor
não pode existir nunca senão sob a forma de relação unilateral e abstrata, no
seio de um todo concreto e vivo já dado. Pelo contrário, como categoria, o
valor de troca tem uma existência anti-diluviana.
Assim,
para a consistência filosófica - que considera que o pensamento que concebe é o
homem real, e que, portanto, o mundo só é real quando concebido -para esta
consciência, é o movimento das categorias que lhe aparece com um verdadeiro ato
de produção (o qual recebe do exterior um pequeno impulso, coisa que esta
consciência só muito a contra gosto admite> que produz o mundo. Isto é exato
(embora aqui nos vamos encontrar com uma nova tautologia>, na medida em que
a totalidade concreta, enquanto totalidade do pensamento, enquanto concreto do
pensamento é in fact um produto do pensamento, do ato de conceber; não é de
modo nenhum, porém, produto do conceito que pensa e se gera a si próprio e que
atua fora e acima da intuição e da representação; pelo contrário, é um produto
do trabalho de elaboração, que transforma a intuição e a representação em conceitos. O todo,
tal como aparece na mente como um todo pensamento, é produto da mente que pensa
e se apropria do mundo do único modo que lhe é possível; modo que difere
completamente da apropriação desse mundo na arte, na religião, no espírito
prático. O sujeito real conserva a sua autonomia fora da mente, antes e depois,
pelo menos durante o tempo em que o cérebro se comporte de maneira puramente
especulativa, teórica. Por consequência, também no método teórico é necessário
que o sujeito - a sociedade - esteja constantemente presente na representação
como ponto de partida.
Mas
não terão também estas categorias simples uma existência histórica ou natural
autônoma anterior às categorias concretas? Ça dépend; Hegel, por exemplo, tem
razão em começar a sua Filosofia do Direito pela posse, a mais simples das
relações jurídicas entre indivíduos; ora não existe posse antes da família ou
das relações de servidão e dominação, que são relações muito mais concretas; em
contrapartida, seria correto dizer que existem famílias e tribos que se limitam
a possuir, mas que não têm propriedade. A categoria mais simples relativa à
posse aparece, portanto, como uma relação de simples comunidades familiares ou
de tribos; numa sociedade mais avançada, aparece como a relação mais simples de
uma organização mais desenvolvida; porém, está sempre implícito o sujeito
concreto cuja relação é a posse. Podemos imaginar um selvagem isolado que seja
possuidor, mas, neste caso, a posse não é uma relação jurídica. Não é exato
que, historicamente, a posse evolua até à família; pelo contrário, a posse
pressupõe sempre a existência dessa "categoria jurídica mais
concreta".
Seja
como for, não deixa de ser verdade que as categorias simples são expressão de
relações nas quais o concreto menos desenvolvido pode já ter-se realizado sem
estabelecer ainda a relação ou o vínculo mais multilateral expresso teoricamente
na categoria mais correta; esta categoria simples pode substituir como relação
secundária quando a entidade concreta se encontra mais desenvolvida. O dinheiro
pode existir, e de fato existiu historicamente, antes do capital, dos bancos,
do trabalho assalariado, etc.; deste ponto de vista pode afirmar-se que a
categoria mais simples pode exprimir relações dominantes de um todo não
desenvolvido, ou relações secundárias de um todo mais desenvolvido, relações
essas que já existiam historicamente antes de o todo se ter desenvolvido no
sentido expresso por uma categoria _mais concreta. Só então o percurso do
pensamento abstrato, que se eleva do simples ao complexo, poderia corresponder
ao processo histórico real.
Por
outro lado, podemos afirmar que existem formas de sociedade muito
desenvolvidas, embora historicamente imaturas; nelas encontramos as formas mais
elevadas da economia, tais como a cooperação, uma desenvolvida divisão do
trabalho, etc., sem que exista qualquer espécie de dinheiro; tal é o caso do Peru.
Assim também, nas comunidades eslavas, o dinheiro e a troca que o condiciona
não aparecem, ou aparecem muito raramente no seio de cada comunidade, mas já
surgem nos seus confins, no tráfico com outras comunidades. De aqui que seja em
geral errado situar a troca interna à comunidade como o
elemento constitutivo originário. A princípio, a troca surge de preferência nas
relações entre comunidades, mais do que nas relações entre indivíduos no
interior de uma única comunidade.
Além
disso, se bem que o dinheiro tenha desempenhado desde muito cedo um papel
múltiplo, na Antiguidade só pertence, como elemento dominante, a certas nações
unilateralmente determinadas, a nações comerciais; e até na própria antiguidade
mais evoluída, na Grécia e em Roma, o dinheiro só vem a alcançar o seu pleno
desenvolvimento - um dos pressupostos da sociedade burguesa moderna - no
período da dissolução.
Por
conseguinte, esta categoria inteiramente simples, só aparece historicamente em
toda a sua intensidade nas condições mais desenvolvidas da sociedade. Mas não
impregna de maneira nenhuma todas as relações econômicas; no apogeu do Império
Romano, por exemplo, o tributo e as
prestações em gêneros continuavam a ser fundamentais; o dinheiro propriamente
dito só estava completamente desenvolvido no exército. Nunca chegou a dominar
na totalidade da esfera do trabalho.
De
modo que - embora historicamente a categoria mais simples possa ter existido
antes da categoria mais concreta - ela só pode pertencer, no seu pleno
desenvolvimento intensivo e extensivo, a uma forma de sociedade complexa, ao
passo que a categoria mais concreta se encontrava mais desenvolvida numa forma
de sociedade mais atrasada.
O
trabalho parece ser uma categoria muito simples; e a idéia de trabalho nesse
sentido - isto é trabalho, sem mais - é muito antiga. No entanto, tomando esta
sua simplicidade do ponto de vista econômico, o "trabalho" é uma
categoria tão moderna como as relações que originam esta mesma abstração
simples. O monetarismo, por exemplo - de forma perfeitamente objetiva situava
ainda a riqueza no dinheiro, considerando-a como algo de exterior.
Relativamente a isto, operou-se um grande progresso quando o sistema
manufatureiro ou comercial passou a situar a fonte de riqueza, não no objeto,
mas na atividade subjetiva - o trabalho, manufatureiro ou comercial - embora
continuasse a conceber esta atividade apenas como atividade limitada produtora
de dinheiro. Com relação a este sistema, o dos fisiocratas [realiza novo
progresso e] situa a fonte de riqueza numa forma determinada de trabalho - o
trabalho agrícola; além disso, concebia o objeto não como a forma exterior do
dinheiro, mas como produto enquanto tal, como resultado geral do trabalho.
Mesmo assim, dado o caráter limitado da atividade, este produto continua a ser
um produto determinado da natureza, quer dizer, um produto agrícola, produto da
terra par excellence, Progrediu-se imenso quando Adam Smith rejeitou toda e
qualquer especificação acerca das formas particulares da atividade criadora de
riqueza, considerando-a como trabalho puro e simples, isto é, nem trabalho
manufatureiro, nem trabalho comercial, nem trabalho agrícola, mas qualquer
deles, indiferentemente; a esta universalidade da atividade criadora de riqueza
corresponde a universalidade do objeto enquanto riqueza -produto em geral, quer
dizer trabalho em geral, embora [neste caso] se trate de trabalho passado,
objetivado. A dificuldade e a importância desta transição para a nova
concepção, está patente no fato de o próprio Adam Smith, aqui e ali, pender
para o sistema fisiocrático.
Poderia
agora parecer que se encontrou muito simplesmente a expressão abstrata da mais
antiga e mais simples relação que, na sua qualidade de produtores, os homens
estabeleceram entre si - e isto independentemente da forma da sociedade. Isto é
verdadeiro num sentido, e falso noutro. Com efeito, a indiferença em relação a
toda a forma particular de trabalho supõe a existência de um conjunto muito
diversificado de gêneros reais de trabalho, nenhum dos quais predomina sobre os
outros. Assim as abstrações mais gerais apenas podem surgir quando surge o
desenvolvimento mais rico do concreto, quando um elemento aparece como o que é comum a muitos, como comum a
todos. Então, já não pode ser pensado unicamente como forma particular. Por
outro lado, esta abstração do trabalho em geral não é apenas o resultado
intelectual de um todo concreto de trabalhos: a indiferença em relação a uma
forma determinada de trabalho corresponde a uma forma de sociedade na qual os
indivíduos podem passar facilmente de um trabalho para outro, sendo para eles
fortuito - e portanto indiferente - o gênero determinado do trabalho. Nestas
condições, o trabalho transformou-se - não só como categoria, mas na própria
realidade - num meio de produzir riqueza em geral e, como determinação já não
está adstrito ao individuo como sua particularidade. Este estado de coisas
atingiu o seu maior desenvolvimento na forma mais moderna das sociedades
burguesas - os Estados Unidos; consequentemente, só nos Estados Unidos a categoria
abstrata "trabalho", "trabalho em geral", trabalho sans
phrase - ponto de partida da economia moderna - se tornou uma verdade prática.
Deste modo, a abstração mais simples - que a economia moderna põe em primeiro
plano, como expressão de uma relação antiquíssima e válida para todas as formas
de sociedade - só vem a aparecer como verdade prática- e com este grau de
abstração - enquanto categoria da sociedade moderna.
Poder-se-ia
dizer que a indiferença em relação a toda a forma determinada de trabalho, que
nos Estados Unidos é um produto histórico, se manifesta entre os russos, por
exemplo, como uma disposição natural. Contudo, há uma diferença considerável
entre bárbaros aptos para qualquer trabalho e civilizados que por si próprios
se dedicam a tudo; além disso, esta indiferença em relação a qualquer forma
determinada de trabalho corresponde na prática, entre os russos, à sua sujeição
tradicional a um trabalho bem determinado, a que só podem arrancá-los
influências exteriores. Este exemplo do trabalho mostra com clareza que as
categorias mais abstratas, embora sejam válidas para todas as épocas (devido à
sua natureza abstrata, precisamente), são também - no que a sua abstração tem
de determinado - o produto de condições históricas e só são plenamente válidas
para estas condições e dentro dos seus limites.
A
sociedade burguesa é a mais complexa e desenvolvida organização histórica da
produção. As categorias que exprimem as relações desta sociedade, e que
permitem compreender a sua estrutura, permitem-nos ao mesmo tempo entender a
estrutura e as relações de produção das sociedades desaparecidas, sobre cujas
ruínas e elementos ela se ergueu, cujos vestígios ainda não superados continua
a arrastar consigo, ao mesmo tempo que desenvolve em si a significação plena de
alguns indícios prévios, etc. A anatomia do homem dá-nos uma chave para
compreender a anatomia do macaco. Por outro lado as virtualidades que anunciam
uma forma superior nas espécies animais inferiores só pode ser compreendidas
quando a própria forma superior é já conhecida. Do mesmo modo, a economia
burguesa dá-nos a chave da economia da Antiguidade, etc., - embora nunca à
maneira dos economistas, que suprimem todas as diferenças históricas e vêm a
forma burguesa em todas as formas de sociedade. Podemos compreender o tributo,
a dízima, etc., quando conhecemos a renda fundiária; mas não há razão para
identificar uns com a outra. Além disso, como a sociedade burguesa não é em si
mais do que uma forma antagônica do desenvolvimento histórico, certas relações
pertencentes a sociedades anteriores só aparecem nesta sociedade de maneira
atrofiada, ou mesmo disfarçada. Por exemplo, a propriedade comunal.
Por conseguinte, sendo embora verdade que as categorias da economia burguesa são até certo ponto válidas para todas as outras formas de sociedade, tal deve ser admitido cum grano salis; podem conter essas formas de um modo desenvolvido, ou atrofiado, ou caricaturado, etc.; porém, existirá sempre uma diferença essencial. A invocação da chamada evolução histórica repousa geralmente no fato de que a última forma de sociedade considera as outras como simples etapas que a ela conduzem e, dado que só em raras ocasiões, só em condições bem determinadas, é capaz de fazer a sua própria crítica - não falamos, claro, dos períodos históricos que se consideram a si próprios como uma época de decadência - concebe sempre essas etapas de um modo unilateral. A religião cristã só pode contribuir para que se compreendessem de um modo objetivo as mitologias anteriores, quando se prontificou até certo ponto, por assim dizer virtualmente, a fazer a sua própria auto-crítica. Do msmo modo, a economia burguesa só ascendeu à compreensão das sociedades feudal, clássica e oriental, quando começou a criticar-se a si própria. A crítica a que a economia burguesa submeteu as sociedades anteriores - especialmente o feudalismo, contra o qual a burguesia teve de lutar diretamente - assemelha-se à critica do paganismo pelo cristianismo, ou até à do catolicismo pelo protestantismo - isto quando não se identificou pura e simplesmente com o passado, fabricando a sua própria mitologia.
Por conseguinte, sendo embora verdade que as categorias da economia burguesa são até certo ponto válidas para todas as outras formas de sociedade, tal deve ser admitido cum grano salis; podem conter essas formas de um modo desenvolvido, ou atrofiado, ou caricaturado, etc.; porém, existirá sempre uma diferença essencial. A invocação da chamada evolução histórica repousa geralmente no fato de que a última forma de sociedade considera as outras como simples etapas que a ela conduzem e, dado que só em raras ocasiões, só em condições bem determinadas, é capaz de fazer a sua própria crítica - não falamos, claro, dos períodos históricos que se consideram a si próprios como uma época de decadência - concebe sempre essas etapas de um modo unilateral. A religião cristã só pode contribuir para que se compreendessem de um modo objetivo as mitologias anteriores, quando se prontificou até certo ponto, por assim dizer virtualmente, a fazer a sua própria auto-crítica. Do msmo modo, a economia burguesa só ascendeu à compreensão das sociedades feudal, clássica e oriental, quando começou a criticar-se a si própria. A crítica a que a economia burguesa submeteu as sociedades anteriores - especialmente o feudalismo, contra o qual a burguesia teve de lutar diretamente - assemelha-se à critica do paganismo pelo cristianismo, ou até à do catolicismo pelo protestantismo - isto quando não se identificou pura e simplesmente com o passado, fabricando a sua própria mitologia.
Como,
em geral, em toda a ciência histórica, social, ao observar o desenvolvimento
das categorias econômicas há que ter sempre presente que o sujeito - neste caso
a sociedade burguesa moderna - é algo dado tanto na realidade como na mente; e
que, por conseguinte, essas categorias exprimem formas e modos de existência,
amiudadamente simples aspectos desta sociedade, deste sujeito; e que, portanto,
mesmo do ponto de vista científico, esta sociedade não começa a existir de
maneira nenhuma apenas a partir do momento em que se começa a falar dela como
tal. uma regra a fixar, pois dá-nos elementos decisivos para o [nosso] plano
[de estudo]. Por exemplo, parecia naturalíssimo começar [a nossa análise] pela
renda imobiliária, pela propriedade agrária, pois estão ligadas à terra, fonte
de toda a produção e de toda a existência, e também àquela que foi a primeira
forma de produção de todas as sociedades mais ou menos estabilizadas - a agricultura;
ora, nada seria mais errado do que isto; em todas as formações sociais, existe
uma produção determinada que estabelece os limites e a importância de todas as
outras e cujas relações determinam, portanto, os limites e importância das
outras todas. E a iluminação geral que banha todas as cores e modifica as suas
tonalidades particulares. como um éter particular que determina o peso
específico de todas as formas de existência que nele se salientam.
Consideremos
por exemplo os povos de pastores (os povos de simples caçadores e scadores não
atingiram ainda o ponto em que começa o verdadeiro desenvolvimento>.
Encontramos nestes povos uma forma esporádica de agricultura. Desse modo se
determina a propriedade agrária. Esta propriedade é comum e conserva mais ou
menos esta forma, consoante estes povos estão mais ou menos ligados às suas
tradições: é o caso da propriedade comunal entre os Eslavos.
Nos
povos que praticam a agricultura sedentária - e a sedentarização é já um
progresso importante - e em que predomina essa atividade, como na Antiguidade e
na sociedade feudal, a própria indústria, bem como a sua organização e as
formas de propriedade que lhe correspondem, reveste-se - em maior ou menor grau
-do caráter da propriedade agrária; a indústria, ou depende completamente da
agricultura, como na Roma Antiga ou reproduz, na cidade, a organização e as
relações do campo, como na Idade Média; o próprio capital - à exceção do puro e
simples capital monetário - reveste-se na Idade Média, na forma de instrumentos
de trabalho artesanal, etc., desse caráter de propriedade agrária. Na sociedade
burguesa sucede o contrário: a agricultura transforma-se cada vez mais num
simples ramo industrial, e é completamente dominada pelo capital. O mesmo se
passa com a renda agrária. Em todas as formas de sociedade em que domina a
propriedade agrária, a relação com a natureza é ainda preponderante. Em
contrapartida, naqueles em que domina o capital, são [preponderantes] os
elementos socialmente, historicamente criados. Não se pode compreender a renda
imobiliária sem o capital, mas pode-se compreender o capital sem a renda
imobiliária. O capital é a potência econômica da sociedade burguesa, potência
que domina tudo; constitui necessariamente o ponto de partida e o ponto de
chegada, e deve, portanto, ser analisado antes da propriedade agrária; uma vez
analisado cada um em particular devem ser estudadas as suas relações
recíprocas.
Por
conseguinte, seria impraticável e errado apresentar a sucessão das categorias
econômicas pela ordem que foram historicamente determinantes; a sua ordem, pelo
contrário, é determinada pelas relações que mantêm entre si na moderna
sociedade burguesa, ordem essa que é exatamente a inversa da que parece ser a
sua ordem natural ou a do seu desenvolvimento histórico. Não está em causa a
posição que as relações econômicas ocupam historicamente na sucessão das
diferentes formas de sociedade; nem tampouco a sua ordem de sucessão "na
idéia" (Proudhon), (uma representação nebulosa do movimento histórico). O
que nos interessa é a sua estruturação no interior da moderna sociedade
burguesa.
Os
povos comerciantes - Fenícios, Cartagineses -surgiram em toda a sua pureza no
mundo antigo; esta pureza (caráter determinado abstrato) deve-se precisamente à
própria predominância dos povos agricultores; o capital, comercial ou
monetário, aparece justamente sob esta forma abstrata sempre que o capital não
é ainda o elemento dominante das sociedades. Lombardos e Judeus ocupam uma
posição semelhante relativamente às sociedades medievais que praticam a
agricultura.
Outro
exemplo [ilustrativo] das posições diferentes que as mesmas categorias ocupam
em diferentes estágios da sociedade: as sociedades por ações (joint - stock -
companies), uma das mais recentes instituições da sociedade burguesa, apareciam
já no dealbar da era burguesa, nas grandes companhias mercantis que gozavam de
privilégios e monopólios.
O
próprio conceito da riqueza nacional insinua-se nos economistas do século XVII
- e subsiste em parte nos do século XVIII - sob um aspecto tal que a riqueza
aparece como criada exclusivamente para o Estado, cujo poder é proporcional a
essa riqueza. Esta era uma forma, ainda inconscientemente hipócrita, sob a qual
se anunciava a riqueza e a sua produção como o objetivo dos Estados modernos, considerados
unicamente como meios de produzir riqueza.
Estabelecer
claramente a divisão [dos nossos estudos] de maneira tal que [se tratem]:
1)
As determinações abstratas gerais mais ou menos válidas para todas as formas de
sociedade, mas no sentido atrás exposto.
2)
As categorias que constituem a estrutura interna da sociedade burguesa, sobre
as quais repousam as classes fundamentais. O capital, o trabalho assalariado, a
propriedade agrária; as suas relações recíprocas. A cidade e o campo. As três
grandes classes sociais; a troca entre estas. A circulação. O crédito
(privado).
3)
Síntese da sociedade burguesa, sob a forma de Estado, considerada em relação
consigo própria. As classes "improdutivas". Os impostos. A dívida
pública. O crédito público. A população. As colônias. A emigração.
4)
As relações internacionais da produção. A divisão internacional. A exportação e
a importação. Os câmbios.
5)
O mercado mundial e as crises.
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