David
Èmile Durkheim, foi sem dúvida o grande representante da Sociologia na França,
superando o autor dos pressupostos teóricos e práticos do filósofo Augusto
Comte, que em sua perspectiva assinala sua física social, tentativa de aplicar
as leis da natureza à análise da sociedade.
Durkheim foi influenciado por Wundt,
a partir daí ele passou a estudar Antropologia e Psicologia, onde passa a se
dedicar ao estudo das Ciências Sociais que estavam em formação, principalmente
na França e na Alemanha de Max Weber e Karl Marx, autores que também se
tornaram referência quando falamos em ciência da sociedade, a grande
preocupação de Durkheim é a de transformar a Sociologia em uma ciência autônoma.
Buscando superar Comte, Durkheim
afirma “que a Sociologia deveria utilizar uma metodologia científica,
investigando leis, não generalidades abstratas e sim expressões precisas de
relações descobertas entre os diversos grupos sociais” (Durkheim, 1983, p. 08).
Isto quer dizer que o seu projeto vai girar em torno da busca incessante de
definir a Sociologia como ciência particular, ele vai criar certa expectativa
em relação à sua empreitada.
A obra de Durkheim se dirige
principalmente a Spencer e Comte, pois segundo ele, estes pouco contribuíram ou
acrescentaram no que se refere ao objeto de estudo da Sociologia, até a obra de
Durkheim, os sociólogos pouco se preocuparam em definir o método que aplicam ao
estudo dos fatos sociais.
Sua produção intelectual é
diversificada, sendo uma possibilidade variada de temáticas e que contribuem de
forma pontual para a formação da Sociologia na França do final do século XIX e
início do XX. Suas principais obras são: Elementos de Sociologia (1899); A
Divisão do Trabalho Social (1893); As Regras do Método Sociológico (1895); O
Suicídio (1897); As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912), dentre
inúmeras outras sobre filosofia, educação, política e socialismo.
A nossa proposta é analisar uma obra
específica, que é as Regras do Método Sociológico de (1895), obra fundamental
para que possamos entender a formação da Sociologia como ciência da sociedade e
que tem um objeto de estudo específico, que são os fatos sociais, nesta obra o
autor define a Sociologia e seu método de análise da sociedade.
Durkheim inicia a obra definindo o
fato social, que é o fundamento básico da Sociologia. Para ele, podemos
reconhecer um fato social pelo poder de coerção externa que exerce ou é capaz
de exercer sobre os indivíduos, e a presença desse poder se reconhece, por sua
vez, seja pela existência de alguma sanção determinada, seja pela existência
que o fato opõe a toda tentativa individual de fazer-lhe violência.
“É fato social toda
maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma
coerção exterior, ou ainda, toda maneira de fazer que é geral na extensão de
uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria e
independente de suas manifestações individuais” (Durkheim, 1999, p. 13).
O fato social é uma regra geral e
coletiva e este exerce determinada coerção sobre o indivíduo e esta coerção é
exterior ao indivíduo, isto quer dizer que não foi criada por ele e sim por um
conjunto maior que é a sociedade, assim, o fato social possui existência própria
e independente do indivíduo. Por outro lado, Durkheim estabelece regras para
que possamos entender os fatos sociais, para ele, a primeira regra e a mais
fundamental é considerar os fatos sociais como coisas, mas diferentemente de
Comte, que analisou esses fenômenos como coisas naturais. Durkheim parte de um
olhar diferente, este afirma serem os fatos sociais “coisas”, mas coisas
sociais. Agora fica uma pergunta: mas o que são “coisas” para o autor? Ele
responde da seguinte forma: “é coisa, com efeito, tudo o que é dado, tudo o que
oferece ou, melhor, se impõe à observação. Tratar os fenômenos como coisas é
tratá-los na qualidade de data que constituem o ponto de partida da ciência”
(Durkheim, 1999, p. 28).
Os fatos sociais só fazem sentido a
partir do momento que passam a ser observados pelo pesquisador e que estes são
na realidade o ponto de partida da ciência Durkheimiana, estes devem ser
analisados fora dos sujeitos que os concebem, segundo ele, ainda é necessário
estudá-los de fora e como coisas exteriores, pois é assim que ele se apresenta
para o pesquisador.
Portanto, Durkheim sugere que o
sociólogo tenha alguns procedimentos: O primeiro procedimento do sociólogo deve
ser, portanto, definir as coisas de que ele trata, a fim de que se saiba e de
que ele saiba bem o que está em questão. Além do mais, visto ser por essa
definição que é constituído o objeto mesmo da ciência, este será uma coisa ou
não conforme a maneira pela qual essa definição for feita.
Primeiramente, o sociólogo vai
definir qual ou quais fatos sociais ele vai tratar ou analisar para que este
possa saber o que está em questão, desta forma, ele tem o seu objeto de estudo
definido, que é o fato social, que na acepção de Durkheim deve ser tratado como
coisa.
Para Durkheim (1999), jamais tomar
por objeto de pesquisa senão um grupo de fenômenos previamente definidos por
certos caracteres exteriores que lhes são comuns, e compreender na mesma
pesquisa todos os que correspondem a essa definição. “O que é preciso é
constituir inteiramente conceitos novos, apropriados às necessidades da ciência
e expressos com o auxílio de uma terminologia especial” (Durkheim, 1999, p.
38). Não, certamente, que o conceito vulgar seja inútil ao cientista, ele serve
de indicador.
Durkheim destaca que, para que a Sociologia
trate os fatos sociais como coisas, segundo ele, é preciso que o sociólogo
sinta a necessidade de aprender com eles. O autor classifica ainda o fato
social como normal e anormal, um exemplo de fato social anormal é o crime. Sua
visão de sociedade é: “a sociedade não é uma simples soma de indivíduos, mas o
sistema formado pela associação deles representa uma realidade específica que
tem seus caracteres próprios” (Durkheim, 1999, p. 105). Isto quer dizer que a
sociedade é uma totalidade mais complexa e que tem por base a associação desses
indivíduos enquanto coletividade e que representa um determinado tipo de
realidade e tem suas características próprias.
“A causa determinante
de um fato social deve ser buscada entre os fatos sociais antecedentes, e não
entre os estados da consciência individual. A função de um fato social não pode
ser senão social isto é, ela consiste na produção de efeitos socialmente úteis.
A função de um fato social deve ser sempre buscada na relação que ele mantém
com algum fim social” (Durkheim, 1999, p. 112).
A
proposta de Durkheim, para que o sociólogo possa entender o fato social, este
deve observar os fatos sociais do passado, ou seja, anteriores, mais uma vez o
autor insiste na questão do fato ser algo estritamente social.
A
Sociologia ora fundada por Durkheim, constitui ou busca descobrir novos
conceitos e que estes sejam utilizados às novas necessidades da ciência social,
ao mesmo tempo o cientista não deve descartar conceitos vulgares como o próprio
Durkheim vem colocar. O sociólogo deve mostrar também que o fato social é
diferente da Psicologia, posteriormente isto ficará bem mais claro em nosso
trabalho. Mas todo fato social segundo o autor tem certo poder de coerção.
“Certamente, fazemos da coerção a característica de todo fato social. Ela
simplesmente se deve ao fato de o homem estar na presença de uma força que o
domina e diante da qual se curva, mas essa força é natural” (Durkheim, 1999, p.
124). Na prática, para Durkheim, os fatos sociais são coercitivos e esta coerção
é exercida no indivíduo.
Como a proposta da obra As Regras do
Método Sociológico é definir um objeto de estudo da Sociologia, Durkheim propõe
também um método de análise para a Sociologia. “Uma vez que, por outro lado, os
fenômenos sociais escapam evidentemente à ação do operador, o método
comparativo é o único que convém à Sociologia” (Durkheim, 1999, p. 127, 128). O
estudo da sociedade deve ser realizado de modo comparativo, como por exemplo,
quando um sociólogo vai estudar um fato social na atualidade, este não deve
deixar de lado fatos sociais de sociedades anteriores, Durkheim em seus estudos
sempre se reportava as sociedades simples.
Assim, para ele, conseqüentemente,
só se pode explicar um fato social de alguma complexidade se acompanhar seu desenvolvimento
integral através de todas as espécies sociais. A Sociologia comparada não é um
ramo particular da Sociologia, é a Sociologia mesma, na medida em que ela deixa
de ser puramente descritiva e aspira a explicar os fatos.
Durkheim propõe um método próprio
para a Sociologia. Sobre o método Durkheim afirma: “em primeiro lugar, ele é
independente de toda Filosofia. Por ter nascido das grandes doutrinas
filosóficas, a Sociologia conservou o hábito de se apoiar em algum sistema do
qual se acha, pois solidária” (Durkheim, 1999, p. 145). Ainda sobre o método
ele coloca: “em segundo lugar, nosso método é objetivo. Ele é inteiramente
dominado pela idéia de que os fatos sociais são coisas e como tais devem ser
tratados” (Durkheim, 1999, p. 148). Seu método tem como objetivo, ser um método
exclusivamente sociológico e que um fato social só pode ser tratado por outro
fato social.
Para ele, a Sociologia deve ser uma
ciência particular independente, vejamos por que:
“A sociologia,
portanto, não é o anexo de nenhuma outra ciência, ela própria é uma ciência
distinta e autônoma, e o sentimento da especificidade da realidade social é
inclusive tão necessário ao sociólogo, que somente uma cultura especificamente
sociológica é capaz de prepará-la para a compreensão dos fatos sociais”
(Durkheim, 1999, p. 149, 150).
Aqui está colocado o grande projeto
de Durkheim, sua busca em definir a sociologia como sendo uma ciência e que
esta deve ser independente e autônoma ,
onde a partir de uma cultura estritamente sociológica que o sociólogo vai
buscar trabalhar. Comentando a obra de Durkheim, Rodrigues (2005) afirma que
este defende a tese de que a Sociologia é uma ciência essencialmente francesa.
Desta forma Rodrigues (2005), coloca que as regras do método sociológico (1895),
constitui a primeira obra exclusivamente metodológica escrita por um sociólogo
e voltada para a investigação e explicação sociológica.
Assim, a obra de Durkheim produzida
na França no final do século XIX e início do XX, foi fundamental para a
definição e conseqüentemente o desenvolvimento da Sociologia, pois seu projeto
de fundar uma ciência social que tem por objeto de pesquisa o fato social se
estabelece neste país e posteriormente a Sociologia francesa é difundida em
todo o mundo.
BIBLIOGRAFIA.
DURKHEIM, Èmile. As
Regras do Método Sociológico. São Paulo, Martins Fontes, 1999.
DURKHEIM, Èmile. Os
Pensadores. São Paulo, Abril Cultural, 1983.
DURKHEIM, Èmile. Sociologia.
In: RODRIGUES, José Albertino (Org). São Paulo, Ática, 2005.
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