Por Nildo Viana e Maria
Angélica.
A sociologia no Brasil nasce com a herança cultural da Europa, berço de nascimento da ciência da sociedade. É necessário entender seu surgimento na Europa para compreender o seu processo de constituição em nosso país.
Podemos dizer que toda ciência possui um processo de constituição que pode ser dividido em formação, sistematização e consolidação. A fase formativa é aquela na qual surgem alguns dos seus termos e algumas teorias. É o que Augusto Comte denominou fase ‘pré-cientifica’, na qual alguns elementos aparecem de forma rudimentar e convivendo com outras visões, não-cientificas. A fase de sistematização é a cientifica propriamente dita, na qual as bases teórico-metodológicas são construídas e o objeto de estudo, delimitado. A fase de consolidação é quando a referida ciência se desenvolve por meio da ampliação e expansão. Este processo ocorreu na Europa e também no Brasil, mas de forma diferenciada. No continente europeu teve um longo caminho histórico.
O período de formação ocorreu no
século XVIII, quando surgem as primeiras tentativas e pensadores buscando
pensar a sociedade de forma científica, mas sem superar ainda a visão
filosófica então predominante. É nesta época que surgem as obras de Herbert
Spencer, Pierre-Joseph Proudhon e Augusto Comte. Este último cria a palavra
Sociologia, o que para muitos justifica apresentá-lo como o pai da Sociologia.
Mesmo assim, Comte, Spencer, Proudhon e diversos outros pensadores da época
ainda não haviam conseguido sistematizar a sociologia como ciência e nem se
livrar da influência da filosofia.
O período de sistematização, que
marca o nascimento da nova ciência, data do século XIX, quando surgem grandes
obras sociológicas e os pensadores considerados clássicos desta ciência. É
neste período que Marx, Durkheim e Weber (este começa a produzir no final do
século e início do século seguinte) lançam as bases teóricas e metodológicas da
ciência da sociedade. Durkheim lança as bases positivas da Sociologia e busca
construir o seu objeto de estudo que ele denominou “fatos sociais”. Marx
desenvolve o materialismo histórico e o método dialético, e erige a sua teoria
do capitalismo e da revolução proletária. Weber, por sua vez, apresenta uma
nova visão das bases metodológicas da Sociologia e desenvolve diversos estudos
sobre a sociedade moderna, Estes três pensadores sistematizaram a Sociologia,
lançaram as suas bases teórico-metodológicas sob formas diferentes e
influenciaram a produção sociológica posterior.
O período de consolidação ocorre
no século XX, quando as bases lançadas pelos clássicos são aplicadas,
desenvolvidas, mescladas e ocorre a institucionalização e reconhecimento da
Sociologia como ciência na comunidade cientifica e nas universidades.
No entanto, o surgimento e desenvolvimento da Sociologia no Brasil tiveram outra trajetória. Para compreender a defasagem na história da Sociologia brasileira em relação ao caso europeu é preciso entender o contexto histórico e social de ambos os casos. As pré-condições para o nascimento da Sociologia são a formação do capitalismo e seu desenvolvimento, proporcionando novas lutas de classes (burguesia e proletariado), novos problemas sociais, e uma ampliação da racionalização e da divisão social do trabalho, o que faz emergir o que Bourdieu denomina ‘campo cientifico’ e outros autores chamam de ‘comunidade cientifica’.
O desenvolvimento das ciências
naturais e o progresso tecnológico e cientifico trazem legitimidade e status
superior ao novo ramo do saber, a Ciência. Assim se desenvolve as ciências
particulares entre elas a Sociologia, uma subdivisão no interior de um campo
mais amplo, que é o das ciências humanas. Inúmeros autores que trabalharam a
história desta disciplina colocam que ela é filha da revolução, ou seja, um
produto das revoluções burguesas e da revolução industrial, que constituem os
fenômenos sociais acima aludidos, consolidando o modo de produção capitalista.
A constituição da sociedade
moderna, no caso do Brasil, ocorre de forma diferente do caso clássico europeu,
o que terá ressonância na história da Sociologia brasileira. O processo de
modernização, em geral, o que também ocorreu no caso da sociedade brasileira, é
marcado pela expansão do capitalismo.
Assim, sua formação [da
Sociologia no país] e institucionalização datam da consolidação do capitalismo
tardio no Brasil, quando a urbanização e industrialização se tornam
predominantes em nosso país. A determinação fundamental da formação tardia da
Sociologia brasileira é a constituição de um capitalismo retardatário em nosso
país, que pressupõe um desenvolvimento capitalista avançado em outros países e
de relações desiguais entre estas duas formas de capitalismo. Esta relação
ocorre sob o signo da subordinação econômica que se reproduz sob a forma
cultural e cientifica.
No entanto, devemos alertar que
este não é um caso especifico do Brasil. Nos Estados Unidos o desenvolvimento
da Sociologia também foi posterior ao que ocorreu na Europa, mas ele ocorreu de
forma mais acelerada devido ao processo de consolidação e expansão do
capitalismo ter ocorrido de forma mais rápida. Assim, em geral, o surgimento da
Sociologia fora do continente europeu é posterior, pois é neste que capitalismo
surge inicialmente e se torna hegemônico. Nos países fora do continente europeu
em que ocorre um rápido processo de industrialização também há um rápido
processo de industrialização também há um desenvolvimento da Sociologia, embora
peculiar e ligado às influências européias. No conjunto dos países considerados
de desenvolvimento capitalista retardatário, que não é o caso apenas do Brasil,
mas de toda América Latina, África e diversos países em outras regiões do
mundo, há também um desenvolvimento retardatário da Sociologia (e das demais
ciências humanas).
O capitalismo brasileiro surge
de forma tardia em comparação com a Europa e alguns outros países. A exploração
colonial produziu no Brasil uma sociedade escravista colonial marcada pelo
trabalho escravo como forma dominante de exploração do trabalho ligado ao sistema
colonial, que drenava as riquezas aqui produzidas e as transferia para a nação
colonizadora. Assim, o escravismo colonial se diferenciava do escravismo
antigo, já que ocorria no interior de uma divisão internacional do trabalho
instituída pelo capitalismo mundial sustentando o processo denominado
acumulação primitiva de capital, que antecedeu ao processo de instituição da
acumulação propriamente capitalista. Neste contexto, não havia a menor
possibilidade do surgimento da Sociologia durante este período.
É somente no período posterior à
Revolução de 1930 que os primeiros sinais de produção sociológica seriam
esboçados no Brasil.
Após 1945, a Sociologia
brasileira entra na sua fase de consolidação, marcada pela sistematização da
aplicação de referenciais teóricos oriundos da Europa e Estados Unidos e
esboços de novos conceitos mais adequados à realidade brasileira são
desenvolvidos. Também ocorre uma expansão do ensino de sociologia e do uso mais
sistemático de técnicas de pesquisa. É neste período que surgem as obras de
Sociólogos como Florestan Fernandes, Luiz Aguiar Costa Pinto, Leôncio Martins
Rodrigues, Juarez Brandão, Luiz Pereira, Octávio Guilherme Velho, entre outros.
Alguns representantes da fase de organização, como Caio Prado e Gilberto Freyre
continuam produzindo nesta época. Novos temas passam a ser abordados, tal como
o processo da revolução brasileira, a industrialização e a classe operária, o
subdesenvolvimento etc. A partir deste período, a Sociologia ganha maior
autonomia, ultrapassando a mera importação de idéias. Esboçaram-se, assim,
novos conceitos e “tipologias nacionais”, como coloca Gomes (1994).
O desenvolvimento da Sociologia
brasileira após 1945 pode ser explicado pelo seu desenvolvimento intelectual e
institucional acumulativo, pela institucionalização do período anterior, a
vinda de sociólogos estrangeiros para a formação de novos profissionais mais
especializados e, principalmente, pelas mudanças sociais. Dentre elas, cabem
destaque o chamado ‘modelo de substituição de importações’, a ascensão do populismo, a ampliação da
urbanização e industrialização, a expansão do sistema de ensino (institutos de
pesquisa, consolidação da comunidade cientifica), crescimento da demanda por
títulos universitários, aprofundamento da racionalização e a nova onde
desenvolvimento da Sociologia norte-americana e européia no pós-guerra que
exerceram grande influência no desenvolvimento da Sociologia brasileira.
A obra de Guerreiro Ramos, teve
grande repercussão, inclusive em outros países, além de apresentar uma
discussão inovadora e problematizar a Sociologia brasileira, principalmente o
caráter subsidiário da estrangeira, acabando por influenciar a produção no
Brasil e contribuindo com sua maior independência em relação aos cânones
estrangeiros. Esta obra marca um processo de maturidade da Sociologia
brasileira, embora ainda permaneça, até os dias de hoje, sendo uma Sociologia
“enlatada”. A fase seguinte da Sociologia brasileira é a que se desenvolve a
partir da segunda metade dos anos de 1960, mas já enquanto Ciência consolidada
e que, portanto, ultrapassa o seu período de formação, objeto do presente
artigo.
1 comentários:
Acabo de solicitar un préstamo para automóvil del Sr. Pedro y su compañía de financiación de inversiones y un préstamo sin subsidio. Después de investigar un poco sobre diferentes prestamistas, elegí descubrir porque parecen ofrecer algunos de los mejores beneficios del mercado (en este preciso momento) a una tasa de 2. Póngase en contacto con el Sr. Pedro en pedroloanss@gmail.com para solicitar cualquier tipo de préstamo.Acabo de solicitar un préstamo para automóvil del Sr. Pedro y su compañía de financiación de inversiones y un préstamo sin subsidio. Después de investigar un poco sobre diferentes prestamistas, elegí descubrir porque parecen ofrecer algunos de los mejores beneficios del mercado (en este preciso momento) a una tasa de 2. Póngase en contacto con el Sr. Pedro en pedroloanss@gmail.com para solicitar cualquier tipo de préstamo.
Postar um comentário